"Os Cães de Santiago" é o título para um romance ainda não escrito. Preferencialmente, que verse sobre a desumanidade (e possivelmente jamais escrito por mim, já que a prosa de ficção, para além de minhas atividades acadêmicas, jamais me pareceu matéria para a qual eu tenha qualquer habilidade). Estive em Santiago em julho de 2011 e notei por lá uma quantidade impressionante de belos e enormes cães errantes. Doces, elegantes e simpáticos andarilhos. Aos quase 35 anos, já não tenho pudor nenhum em admitir que minha admiração e afeto pelos não humanos suplanta qualquer traço dela que eu nutra pelos próprios. Ocorre que, em uma tarde daquele julho, sentada em frente ao Mercado Municipal da capital chilena, um perro enorme veio acomodar-se sossegadamente bem aos meus pés. Pensei n'Os Cães de Santiago como um belo título, fosse para o que fosse.
Procurei este espaço pela absoluta impossibilidade de abandonar a minha vida virtual, por menor que seja o tempo disponível. Nos últimos dias, venho experimentando uma espécie de crise de abstinência. Hábitos são hábitos. Minhas leituras matinais, o flanar pelas informações culturais, os pitacos no comportamento alheio, as dicas de filmes, os poemas preferidos, as canções e imagens que me tocam, enfim, tudo o que vinha circulando nos últimos três anos no meu perfil do Facebook recentemente deletado deve aparecer por aqui. É a minha primeira experiência como blogueira e tenho a impressão de que será mais livre, menos engessada nos padrões das redes sociais. Sinto uma espécie de necessidade de amadurecimento autoral, algo como uma seriedade descompromissada, mas que, contraditoriamente, se origina na crença narcísica de que tenho um compromisso com aqueles que antes me "liam" e que abandonei. Ninguém torna públicos seus pensamentos e sua rotina se não dispõe disso, mas creio que ainda seja cedo para classificar ou nomear qualquer coisa. Talvez este novo contexto me estimule a escrever mais, "ensaiar" mais, para além dos recortes e elencos que venho realizando. Afinal de contas, foi o prazer em escrever o meu primeiro impulso na direção da formação que me fez profissional das Letras. Em algum canto de mim, tantos desencantos depois, ele ainda respira.
Bom Sheila, compreendi perfeitamente seu enjoo do Face - me acontece também, devo prosseguir até a náusea? Parabéns pelo Blog, acompanharei por aqui... o mais bonito (porque tão real) é: "Afinal de contas, foi o prazer em escrever o meu primeiro impulso na direção da formação que me fez profissional das Letras. Em algum canto de mim, tantos desencantos depois, ele ainda respira." - Katiuce
ResponderExcluirObrigada Kati, querida! Eu amei o face...kkk...mas, humana que sou, fiz desse amor um vício que acabou por me tomar muito mais tempo do que disponho com banalidades, preocupada em monitorar e ser monitorada nas mesquinharias cotidianas. E a ideia original não era essa. Aqui, penso que conseguirei estabelecer uma discussão mais próxima do que realmente me preocupa no mundo. Um beijo e obrigada por inaugurar os comentários! Venha sempre!
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