Notícias e pitacos sobre cinema, literatura, música, filosofia, teatro, quadrinhos, séries e etc.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Segundo Chacrinha, o eterno velho guerreiro...


"Nada se cria, tudo se copia"...
Tudo bem que o contexto em que surgiu a frase era a televisão brasileira. Mas, cheio de razão, o velho buzineiro foi o primeiro citado pela minha memória no instante em que descobri já haver um conto escrito com o título que dá nome a este blog, e que evoca em mim o desejo de um romance futuro. Certo... como eu não pensei, antes de criar esta conta, em lançar mão da sebedoria do Oráculo do Século XXI e simplesmente jogar no google, entre aspas, a expressão que se me soprava? Pois é, pensei agora. De todo modo, espero que o autor do conto, Marco Antonio Bin, me perdõe a coincidência, caso um dia ele chegue a ela. Para tentar remediar minha gafe, indico o referido conto: http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2008/08/02/os-caes-de-santiago/ e aviso que ainda não o li, mas pretendo fazê-lo, para o caso de alguém aqui o comentar. De resto, havendo outras coincidências, descobri-las-emos.

Aqui, mais dois perros andarilhos de Santiago, além dos quatro que ornamentam a parte superior desta tela. Um deles, aquele ao qual me referi na apresentação do blog.


Pensemos, meus caros...!

Vejam só que alegria! Descobri que é possível baixar em um arquivo compactado todo o material que foi sendo colocado na minha conta do Facebook. Com isso poderei, nestes primeiros tempos de blog, selecionar algumas postagens bacanas que andei fazendo por lá, para me ajudar a construir um tom para este espaço, ainda que caótico, eclético, improvisado, enfim... Vou filtrando, revendo, relacionando, aceitando sugestões dos amigos e seguindo! Aliás, amigos blogueiros, venham para cá e me permitam ir para aí também!

Nesta primeira seleção, sugiro dois vídeos extremamente interessantes para uma reflexão apurada e clara sobre a condição humana na contemporaneidade. A ideia é, ao revê-los e somá-los a algumas leituras, finalmente escrever algo que me vem martelando a mente acerca do "medo". Quem sabe, nos próximos dias.

O primeiro vem na voz e pensamento de Mia Couto, um dos mais significativos nomes da literatura em língua portuguesa atual:

"Sem darmos conta fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. As questões de ética são esquecidas, porque está provada a barbaridade dos outros e, porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética nem de legalidade."



O segundo, é fruto da sensibilidade do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de mais de quarenta livros, cuja obra mais conhecida é As Veias Abertas da América Latina.


"Aunque no podemos adivinar el tiempo que será, sí que tenemos, al menos, el derecho de imaginar el que queremos que sea. En 1948 y en 1976, las Naciones Unidas proclamaron extensas listas de derechos humanos; pero la inmensa mayoría de la humanidad no tiene más que el derecho de ver, oír y callar. ¿Qué tal si empezamos a ejercer el jamás proclamado derecho de soñar? ¿Qué tal si deliramos, por un ratito? Vamos a clavar los ojos más allá de la infamia, para adivinar otro mundo posible"



Diante deles, do que claramente expõem, pensemos, meus caros, pensemos...

Francesca - Luis Felipe Pondé

 "A virtude é sempre discreta"
Lia eu o livro do marxista Terry Eagleton, "O Debate sobre Deus" (ed. Nova Fronteira, 232 págs., R$ 39,90), recém-publicado entre nós, quando topei com sua crítica ao cineasta Clint Eastwood.

Eagleton é um bom pensador, mas ninguém é perfeito. Seu livro é muito bom e merece ser lido, mas o que ele diz sobre Eastwood é uma grande bobagem.

Bobagem, aliás, comumente repetida por gente de bem, mas contaminada pelo que há de pior nos maus hábitos da esquerda: falar mal de algo que não conhece.

Eastwood não é um cineasta machão (como supõem Eagleton e quase toda a esquerda, que nada entende de ser humano, porque pensa o tempo todo na bobagem de luta de classes e oprimido x opressor). Pelo contrário, talvez ele seja um dos artistas que melhor entendem o desespero humano (masculino ou feminino), assim como suas virtudes mais sagradas, como a coragem, o autossacrifício e a generosidade.

Recentemente, revi seu maravilhoso filme "As Pontes de Madison" (1995), um longa feito para as mulheres, como muitos dizem.

Provavelmente ele pegou muita mulher por conta desse filme. Mulheres comumente não resistem a homens que parecem entendê-las. Uma das coisas mais lindas na mulher é a sua capacidade de erotizar o intelecto masculino.

Concordo que "As Pontes de Madison" seja um filme sobre o desejo feminino atado à rotina esmagadora de um casamento sem amor, mas nem tanto. Ele vai muito além de um drama especificamente feminino.

Sua personagem feminina principal, Francesca, vivida por Meryl Streep, não representa apenas as mulheres entediadas de casamentos conservadores (apesar de que sim, também as representa), mas sim todos os homens e mulheres que abrem mão de suas vidas afetivas em nome da família sem reclamar.

Se é verdade que Gustave Flaubert (1821-80), autor do clássico "Madame Bovary" (1857), disse um dia a famosa frase "Emma Bovary sou eu" (referindo-se à personagem principal de seu romance como representante universal da infelicidade humana), acho que muitos homens poderiam dizer, parafraseando esse grande romancista francês do século 19, "Francesca sou eu".

É um erro comum pensarmos que as angústias femininas não são universais. Tal erro é comum principalmente nas feministas, que, na realidade, não entendem nada de mulher nem de homem. Essa tendência a achar que os fantasmas femininos são "coisa de mulher", assim como menstruação e menopausa, é comum mesmo em gente capaz.

Vejamos. No filme em questão, ao final, Francesca (casada e mãe de dois filhos) abre mão de ir embora com Kinkaid, fotógrafo da "National Geographic", vivido pelo próprio Eastwood, e que se tornará seu amante por alguns dias, mas de quem ela jamais se esquecerá (nem ele se esquecerá dela).

No marasmo de uma vida interiorana americana, Francesca vive por poucos dias o pecado do adultério. Não se faz de vítima, mas sabe que peca. Peço aos inteligentinhos que nada entendem do conceito de pecado que vão brincar no parque.

O adultério é um pecado, principalmente quando há amor envolvido; talvez, somente quando há amor envolvido. E pecado aqui significa a consciência de que você não é dono de si mesmo. Suas reações, pensamentos e esquemas rotineiros de enfrentamento da vida entram em colapso. E dói.

E mais: é pecado porque o adultério faz você ver que existe alguém dentro de você que é despertado do sono por outra pessoa que não aquela que divide honestamente e cotidianamente o dia a dia da sua vida.

Aquela pessoa que envelhece com você ao longo de uma vida de "pequenos detalhes" (como diz nossa heroína Francesca) que, ao serem somados, representam uma parceria de confiança, retribuição e generosidade. A grandeza da pecadora Francesca só pode ser medida contra seu sacrifício em nome dos filhos e do fiel e dedicado marido.

A alma de um pecador é a sua consciência de que faz algo contra alguém que não merece. A pior tragédia do adultério se dá quando o traído é inocente.

Ao contrário do que muitas mulheres casadas pensam, muitos homens sacrificam suas vidas afetivas em nome delas e dos filhos, em silêncio. A virtude é sempre discreta.
Folha de São Paulo - Ilustrada - 09/01/2012

Como ganhar um Oscar - João Pereira Coutinho

Agora que a Academia de Hollywood já distribuiu os seus prêmios, imagino que o leitor esteja a sentir uma certa frustração.

Durante semanas, foram incontáveis os artigos sobre os filmes e atores indicados.

Mas em nenhuma matéria foi possível ler a resposta à questão sagrada: como ganhar um Oscar? Que posso eu fazer para subir naquele palco, segurar o eunuco dourado e agradecer à minha mulher, à minha mãe, à minha amante?

Fiz os meus estudos. Estou disposto a partilhar algumas conclusões com os leitores. Uma primeira certeza: esse ano foi atípico. E exceções não confirmam a regra. Vamos às regras.

Primeiro, as senhoras. A leitora deseja mesmo ganhar um Oscar de melhor atriz? Meta uma coisa na cabeça: ao contrário do que se diz, Hollywood é uma instituição essencialmente conservadora. A visão que tem da mulher é feita de extremos caricaturais que não mudam há quase cem anos.

A mulher que Hollywood aprecia habita sempre um dos extremos: ou é santa ou é prostituta.
Jennifer Jones foi santa Bernadette em 1943 ("A Canção de Bernadette"). Ganhou. Susan Sarandon foi freira em 1995 ("Os Últimos Passos de um Homem"). Também ganhou.

Se cruzarmos a linha, encontramos a mulher prostituta: Elizabeth Taylor foi uma em "Disque Butterfield 8" (1960). Jane Fonda repetiu a dose em "Klute - O Passado Condena" (1971). Ganharam ambas.
E quando não são santas (ou prostitutas), convém serem princesas (ou desequilibradas): Ingrid Bergman bateu a concorrência como Anastácia (1956); Audrey Hepburn passeou por Roma sua elegância real em "A Princesa e o Plebeu" (1953). Vitória.

Se a leitora prefere o desequilíbrio, Vivien Leigh ("Uma Rua Chamada Pecado", 1951), Joanne Woodward ("As Três Máscaras de Eva", 1957) ou novamente Elizabeth Taylor ("Quem tem Medo de Virginia Wolf?", 1966) são alguns exemplos de sucesso no excesso.

Um conselho: não experimente a deficiência física profunda. Isso é coisa para machos. Quando muito, Hollywood tolera a mudez. Marlee Matlin ("Filhos do Silêncio", 1986) ou Holly Hunter ("O Piano", 1993) ilustram o que digo.

Moral da história? Um Oscar para melhor atriz será praticamente imperdível se a leitora encontrar o papel de uma mulher com dupla personalidade: religiosa durante o dia, garota de programa à noite. Ser surda-muda também ajuda, mas convém não exagerar.

E os homens? A escolha é mais variada. Mas o conservadorismo de Hollywood mantém-se.
Há papéis que o leitor deve evitar por seu evidente anacronismo. Pistoleiros do faroeste? Sim, funcionou com John Wayne ou Lee Marvin. Não funcionou mais com Clint Eastwood ou Jeff Bridges. E sobre as figuras bíblicas, esqueça: depois de "Ben-Hur", a fonte já secou.

Para os homens, Hollywood sempre gostou de figuras de autoridade. Escolha uma. Podem ser estadistas (Thomas More, Henrique 8º, Disraeli, Gandhi, George 6º etc.).

Mas também podem ser padres, policiais ou militares. Spencer Tracy, em "Com os Braços Abertos" (1938), foi padre. Bing Crosby, em "O Bom Pastor" (1944), também. E Gary Cooper ganhou dois Oscar seguindo o conselho: primeiro, foi sargento em "Sargento York" (1941); depois, xerife em "Matar ou Morrer" (1952).

Para além da autoridade política ou moral, existe ainda a autoridade física. Pugilistas ocupam o topo: Wallace Beery ("O Campeão", 1931) ou Robert De Niro ("Touro Indomável", 1980) são a prova de que Hollywood gosta de gente que bate.

Se, pelo contrário, o leitor optar pela fraqueza -física ou mental- convém descer mesmo aos infernos. A deficiência tem que ser severa (Jon Voight, paraplégico; Dustin Hoffman, autista; Daniel-Day Lewis, paralisia cerebral).

Hollywood sempre gostou de cegos (Al Pacino, Jamie Foxx). Há aqui um padrão: mudez para as mulheres, cegueira para os homens.

Infelizmente, concluo com tristeza que Hollywood despreza jornalistas como eu. Mas isso não significa que "jornalista" seja papel a evitar. Clark Gable foi um em "Aconteceu Naquela Noite" (1934).

Se juntarmos ao papel alguns comportamentos próprios da profissão que Hollywood também aprecia -um certo gosto pela garrafa (Lionel Barrymore em "Uma Alma Livre", 1931); Nicolas Cage em "Despedida em Las Vegas" (1995) e evidentes distúrbios de personalidade (Jack Nicholson, sempre Jack Nicholson), posso mesmo concluir, sem exagero, que a minha vida merecia um Oscar.

jpcoutinho@folha.com.br

Folha de São Paulo - Ilustrada - 28/02/2012 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

#ficamasdicas

Tá aí, com vontade de ler algo interessante, mas no seu feed do face só aparecem selos de autoajuda, memes e particularidades da vida de seus "conhecidos"?

Além da coluna da direita aqui no blog, onde listei blogs legais que acompanho, resolvi colocar aqui alguns dos sítios que conheço, frequento e recomendo, seja para trabalho ou entretenimento:

Se você quer ficar por dentro no que rola no cenário das artes no Brasil:
http://bravonline.abril.com.br/
http://revistapiaui.estadao.com.br/
http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/novaversao.asp

Se curte filmes e séries e quer dar uma espiada no que anda disponível online, para além do universo dos blockbusters:
http://legendas.tv/

Se precisa pesquisar, estudar, ou quer ler em meio digital:
http://livrosdehumanas.org/

Agora, se o lance é uma polêmica, uma lista divertida, ou curiosidades pra relaxar:
http://puxacachorra.blogspot.com/


Com o tempo, vou ampliando as dicas!

;-)


Imaginar é preciso...

 

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore foi premiado pela Academia em 2012 com o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. Quinze minutos com esta pequena e delicada peça são suficientes para restar encantado. Definitivamente, ler é, antes de tudo, navegar.
Informações sobre esta produção estadunidense em: http://www.imdb.com/title/tt1778342/

Apresentação


"Os Cães de Santiago"  é o título para um romance ainda não escrito. Preferencialmente, que verse sobre a desumanidade (e possivelmente jamais escrito por mim, já que a prosa de ficção, para além de minhas atividades acadêmicas, jamais me pareceu matéria para a qual eu tenha qualquer habilidade). Estive em Santiago em julho de 2011 e notei por lá uma quantidade impressionante de belos e enormes cães errantes. Doces, elegantes e simpáticos andarilhos. Aos quase 35 anos, já não tenho pudor nenhum em admitir que minha admiração e afeto pelos não humanos suplanta qualquer traço dela que eu nutra pelos próprios. Ocorre que, em uma tarde daquele julho, sentada em frente ao Mercado Municipal da capital chilena, um perro enorme veio acomodar-se sossegadamente bem aos meus pés. Pensei n'Os Cães de Santiago como um belo título, fosse para o que fosse.

Procurei este espaço pela absoluta impossibilidade de abandonar a minha vida virtual, por menor que seja o tempo disponível. Nos últimos dias, venho experimentando uma espécie de crise de abstinência. Hábitos são hábitos. Minhas leituras matinais, o flanar pelas informações culturais, os pitacos no comportamento alheio, as dicas de filmes, os poemas preferidos, as canções e imagens que me tocam, enfim, tudo o que vinha circulando nos últimos três anos no meu perfil do Facebook recentemente deletado deve aparecer por aqui. É a minha primeira experiência como blogueira e tenho a impressão de que será mais livre, menos engessada nos padrões das redes sociais. Sinto uma espécie de necessidade de amadurecimento autoral, algo como uma seriedade descompromissada, mas que, contraditoriamente, se origina na crença narcísica de que tenho um compromisso com aqueles que antes me "liam" e que abandonei. Ninguém torna públicos seus pensamentos e sua rotina se não dispõe disso, mas creio que ainda seja cedo para classificar ou nomear qualquer coisa. Talvez este novo contexto me estimule a escrever mais, "ensaiar" mais, para além dos recortes e elencos que venho realizando. Afinal de contas, foi o prazer em escrever o meu primeiro impulso na direção da formação que me fez profissional das Letras. Em algum canto de mim, tantos desencantos depois, ele ainda respira.

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Tento pensar para além do senso comum. Em alguns dias sou mais feliz nisso do que em outros. Quem eu sou não pode ser definido pelo que tenho feito apenas e, francamente, é o que menos importa. Entretanto, para quem quer saber sobre o meu trabalho, o caminho oficial é o http://lattes.cnpq.br/2396739928093839