OOOPS! Pois é, meus caros: no pain, no gain. Primeira lição da blogueira neófita: se você não tem certeza de como funciona um recurso ou aplicativo, não use, salvo se estiver consciente do teste. Se desconhece o caráter instável e efêmero de textos online, mantenha uma cópia salva em sua máquina. Se você não fez nada disso, mané, bem feito! Escreva de novo.
Na tentativa de corrigir uma gafe na ordem da citação do elenco do filme ao qual dedico este post, caro leitor, a brilhante pessoa que vos escreve PERDEU TODO O TEXTO. E não, ele não está em nenhum outro lugar, claro que eu já procurei.
Tentarei refazê-lo agora, com todo o risco de não passar muito perto do original. Mas aprendi a lição: backups, backups, babe!
Preâmbulo
No
post original eu havia descrito detalhadamente o ponto de partida para o
olhar concentrado em aspectos comuns (temáticos, estilísticos,
autorais, de gênero, etc.) que resulta nos agrupamentos de filmes que tenho realizado, e que favoreceu o "start" no Projeto Mini Mostras, uma válvula de escape para os cinéfilos de botequim como eu. Mas, ai que preguiça de escrever tudo de novo! Num novo post eu entro nestes detalhes quase off topic. Vamos ao que interessa!
Psycho
Em 1960, o gênio do suspense Alfred Hitchcock dirigiu a adaptação do romance de Robert Bloch que deu origem ao argumento de um dos roteiros mais conhecidos dos fãs de cinema de suspense: a psicopatia de Norman Bates sempre foi, mutatis mutandis, culpa de sua mãe! E todo mundo sabe no que isso deu... Mães e filhos vem digladiando ficcionalmente há muito tempo, graças à ambiguidade do complexo de Édipo.
Não, não farei aqui psicologismos baratos. Bem sei que não li Freud o suficiente para não incorrer no risco de dizer asneiras. O que segue é a tentativa de organizar e partilhar alguns pensamentos e impressões que me vem perseguindo nos últimos tempos, à medida que vou descobrindo e visitando novas ficções fílmicas. Para o caso deste primeiro post, resolvi comentar a relação entre maternidade e violência. E, ok, como não sou mãe, talvez esteja aberta a temporada de dizer asneiras sim.
A filmografia que venho acompanhando neste sentido abarca uma quantidade expressiva de obras, mas para a seleção que segue preferi me ater a alguns filmes recentes, de qualidade, e cujo cerne da questão seja explorado por um viés mais sombrio.
Diferentes diretores de diferentes países tem direcionado o seu olhar para as relações parentais ao longo da história do cinema. Desde as adaptações de mitos e clássicos da literatura até os roteiros mais comerciais, passando de modo brilhante pelo cinema independente, a ambiguidade e a frustração, desdobradas nos sentimentos de falência e abandono, bem como na tensão entre amor e ódio, e no deslocamento por vezes confuso do desejo, a sétima arte tem sido sítio fértil para o tema.
Ainda que a maternidade não esteja no centro (e sim diluída no contexto) do enredo dos recentes e premiados O garoto da bicicleta (Le gamin au vélo, Bélgica, 2011) de Jean-Pierre Dardenne e Em um mundo melhor (Hævnen - Dinamarca, 2010) de Susanne Bier, estes são ótimos exemplos de como crianças mergulhadas no sentimento de abandono tem potencial como protagonistas bem sucedidas em dramas.
Estabelecer um ponto de tensão aguda entre mãe e filho, entretanto, parece-me uma estratégia produtiva no sentido de alcançar os corações menos sofisticados e, concomitantemente, lançar mão de enredos polêmicos, dolorosos e, em alguns casos, doentios. Serve a alguns diferentes gêneros, como é o caso do suspense/terror Psicose (Psycho, USA, 1960), da comédia, ainda que de humor negro, como em Jogue a mamãe do trem (Throw Momma from the Train, 1987), mas serve sobretudo ao drama, como é o caso deste pesadíssimo filme que abre a série.
Metáforas da redenção
Inevitável abrir esta série falando de Kevin. Sim, Precisamos falar sobre Kevin (We Need to Talk About Kevin, UK/USA, 2011) .
Dirigido por Lynne Ramsay e aclamado pela crítica, este drama - cuja montagem estonteante e caótica perpassa memórias e vivências da mãe de um jovem psicopata - traça uma rota dolorosa para a redenção.
Vê-se que os acontecimentos posteriores ao brutal assassinato de colegas de escola pelo adolescente Kevin não fazem da vida desta mãe novaiorquina menos infernal do que os dezesseis anos anteriores, em que ela e o filho estiveram imersos em uma rotina cruel de expectativas, frustrações, violência e incomunicabilidade, resultantes, sugere-se, da gravidez e casamento inesperados e da indesejada mudança na rotina.
Pequenas doses de rejeição e inabilidade surgem da mãe na direção de um bebezinho, mas nada que possa ser diagnosticado como depressão pós-parto. O que segue em crueldade, frieza, cinismo e manipulação, guardadas as devidas proporções, me remeteu à galeria de crianças malignas dos melhores filmes de terror.
O mérito do filme reside em grande parte na magistral atuação dos protagonistas. Tilda Swinton no papel de Eva Khatchadourian, a desafortunada (e simultaneamente insatisfeita) mãe, John C. Reilly como Franklin, o pai permissivo, e Jasper Newell e Ezra Miller como o lindíssimo e assustador Kevin, criança e adolescente, respectivamente.
Importante ressaltar que trata-se de uma adaptação do "inadaptável" romance de Lionel Shriver, composto por cartas de Eva a Franklin que explicam o título. A crítica vem enfatizando um tom melodramático presente na película que não existe no livro. Devo dizer que, muito embora não tenha lido o romance, a escolha pela pungência, tanto no enquadramento, quando nos diálogos e na condução da ação, muito me agradou.
Importante ressaltar que trata-se de uma adaptação do "inadaptável" romance de Lionel Shriver, composto por cartas de Eva a Franklin que explicam o título. A crítica vem enfatizando um tom melodramático presente na película que não existe no livro. Devo dizer que, muito embora não tenha lido o romance, a escolha pela pungência, tanto no enquadramento, quando nos diálogos e na condução da ação, muito me agradou.
Um quantidade considerável de cenas tingidas de vermelho vivo - de tomates a pichação - remetem à iminência do crime e, muitas delas, simbolicamente, sugerem um desfecho. Eva é sistematicamente perseguida, agredida e insultada por aqueles que a reconhecem como mãe do "monstro" e, resignada, lava as mãos sujas da tinta rubra que vandaliza a fachada de sua casa.
O que talvez palpitará no coração dos mais atentos, penso, será algo como: "estariam na narrativa as ações da mãe justificando as ações do filho, again, oh God?
Mais que isso, meus caros, só vendo!
No próximo post da série, um francês de arrepiar!
Quando li "maternidade", achei que fosse encontrar aqui o filme Mother (afinal, só o vi por sua conta, após a dolorosa sessão de Anticristo!). Perturbador como você. Como tudo em você.
ResponderExcluirObrigadíssima por nos "presentear" com este blog.
"No pain, no gain" valerá para os leitores?!
Carolina Panegossi.
Obrigada, Carol! Isso claro, entendendo "perturbador" como um elogio...rs... algo, sei lá, capaz de desacomodar, ainda que incomode. Deixei escapar o "Mother", putz. Mas ainda há tempo. Valeu pela lembrança! Quanto ao "no pain, no gain"...rs... acho que o blog vai se construindo no ritmo do meu humor, essa coisa assim instável, ora muito palhaça, ora muito séria, entre o deboche e o olhar grave... eu gosto provocar e de aprender pela dor, pelo menos, metaforicamente, nas reflexões. Um grande beijo e obrigada por vir!
ResponderExcluirSim, elogio. SEMPRE será elogio!
ResponderExcluirAMEI (jura?) o seu entendimento - "capaz de desacomodar, ainda que incomode".
Quanto ao "no pain, no gain", devo confessar que li, entendi e (não)escrevi "no PAY, no gain" (o trocadilho que está retido em minha vaga memória é de Jack Nicholson, em "Os Infiltrados). Então, minha pergunta é: o blog nos será sempre gratuito?!
Quanto à dor (mesmo que metaforicamente), DUVIDO que alguém sensível não a sinta depois de "te" ler.
Beijo, Carol.