Antes de postar a matéria abaixo, interessante sob vários aspectos - da metalinguagem à reflexão em termos de valores em nossa sociedade - detive-me um instante angustiada com a questão da reprodução de material exclusivo para assinantes do jornal, sobretudo na data de publicação do texto. Fazemos isso com frequência no Facebook, mas aqui ainda não sei exatamente como a banda toca.
Ainda mais por se tratar de matéria do meu querido amigo Marco Aurélio que, ao contrário dos colunistas que costumo divulgar, pode em cinco minutos me ligar ou escrever me dando a maior bronca... espero que não.
A decisão por postar veio imediatamente após localizá-la, na íntegra, em outro blog. Bom, se alguém começou, não fui eu! Vez por outra, devo fazer isso, sempre que, nas leituras do dia a dia, encontrar material que desejo compartilhar. Vejamos no que dá.
Beleza é fundamental?
Folha de São Paulo, Ilustrada, 07 de março de 2012
MARCO AURÉLIO CANÔNICODO RIO
A
feiura, diz Umberto Eco, não é só mais divertida, mas mais interessante
do que a beleza. O raciocínio está bem ilustrado em "A Vingança do
Espelho: A História de Zezé Macedo", que estreia na sexta, em São Paulo.
A
peça conta a vida da atriz cujo nome, para boa parte das pessoas, traz à
mente uma única imagem, se tanto: a da senhora baixinha e feiosa, de
voz esganiçada, fazendo a puritana dona Bela ("Só pensa naquilo") na
"Escolinha do Professor Raimundo".
E,
no entanto, Maria José de Macedo (1916-1999) teve uma vasta e popular,
ainda que hoje esquecida, carreira no cinema, na TV e no rádio, além de
ter publicado poesia.
Marcada
por sua aparência e sua voz, usou-as como atributos para se firmar como
atriz cômica. Na vida privada, se dilacerou -inclusive fisicamente, por
meio de inúmeras cirurgias plásticas- por conta da aparência.
"A
Vingança do Espelho" mostra esses dilemas e alegrias numa narrativa
metalinguística, criada pelo autor Flávio Marinho: os atores representam
um grupo teatral que prepara um espetáculo sobre Zezé Macedo.
O
público assiste às discussões sobre como montar a peça, com os atores
apresentando e debatendo a vida e a carreira de Zezé e encenando, de
forma não cronológica, alguns momentos marcantes -a fase na Atlântida, a
estreia no rádio com o apoio de Dias Gomes, a "Escolinha".
"É
uma peça muito simples, é em cima do ator, do espaço e da relação com o
público. Como fala o Amir [Haddad, diretor], não tem truque, é só
magia", diz Betty Gofman, que interpreta a atriz a quem cabe o papel de
Zezé Macedo na montagem.
"Em
momento algum eu tentei imitar a Zezé. Vi poucos filmes, pouca coisa
dela. O que a gente fez foi tentar entender o que se passava na alma
daquela mulher, tentar sentir o que ela sentia."
HOMENAGEM AO TEATRO
Aproveitando o fato de ser uma peça sobre a montagem de uma peça, "A
Vingança do Espelho" discute a própria profissão teatral: os baixos
salários, a escalação de atores com "presença midiática, para tirar a
companhia do buraco", o favorecimento dos amigos, tudo vira tema.
"É
uma grande reflexão sobre a fragilidade e a força do nosso ofício, e
sobre a dificuldade de uma pessoa que trabalha com a alma e é julgada
pela aparência", diz o diretor Amir Haddad.
"A
TV começa a fazer tudo em cima de um certo tipo de imagem, você fica
prisioneiro daquela imagem e não escapa mais, como a Zezé nunca se
livrou."
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