tag:blogger.com,1999:blog-23177776456233414562024-03-05T02:50:00.570-03:00Os Cães de SantiagoEfemérides para o comum dos dias, por Sheila Pelegri.Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.comBlogger21125tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-71511418194126234312012-03-16T13:46:00.001-03:002012-03-16T13:56:10.230-03:00Cinema, urubus e bruxarias<h3 class="post-title entry-title">
</h3>
<br />
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não falarei sobre urubus, antes de mais. Foi apenas um trocadilho infame. </span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Questões de "foro íntimo" atrasaram as postagens programadas para a semana, <i>sorry for that</i>. Somente hoje pude, vejam, ler o Pondé da segunda! (Mas o "The walking dead" sagrado da terça eu vi. E vou sim escrever logo sobre isso, já que a cada semana sigo mais convencida da força simbólica que o apocalipse zumbi tem em nossos dias.)</span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O fato é que, segundos antes de chegar ao texto do filósofo, eu lia a notícia que anuncia a estréia no Brasil da nova e deliciosa - mas nem por isso pouco trágica - comédia de Nanni Moretti: <b>Habemus Papam</b>. Pensei: taí, vou escrever algo sobre este longa italiano do qual gostei muito, e que, com o pretexto de desvendar os bastidores de um Conclave, trata com bom humor ímpar de alguns dos mais profundos impasses da alma humana frente às exigências da vida. Além de, muito importante, ter me ajudado a não infartar durante as várias turbulências que enfrentei num vôo de volta da Bahia neste ano. </span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></h3>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/dL2EE3OLnis?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></span></div>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eis que, entretanto, o texto do Pondé traz uma temática, digamos assim, mais "contundente". E que <i>a mi me gusta</i> e interessa há muito: a perseguição às "bruxas" realizada pelos tribunais de inquisição, sob o olhar atento e extasiado do povão. Claro que o tema vem em Pondé para ilustrar algo mais interessante ainda: a datação, digamos, da própria ideia de heresia, que transcende as "orientações" presentes nas escrituras, bem como aspectos morais e éticos, para dialogar com o dado cultural, social e político.</span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWE2qyrjDAfUE7R24zmtf43XP1HmQhWgm9Wijh1SfhYSBi3MK8mUlFzr9Hddg5Ccp0yLoxHz-dIkLSdbqCXomnQFarECEVwPV32Xp1Cbno3QEURbTpEZEDPKVRCVyi3rDdUhB4Sy28LvuH/s1600/O+Martelo+das+Feiticeiras+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWE2qyrjDAfUE7R24zmtf43XP1HmQhWgm9Wijh1SfhYSBi3MK8mUlFzr9Hddg5Ccp0yLoxHz-dIkLSdbqCXomnQFarECEVwPV32Xp1Cbno3QEURbTpEZEDPKVRCVyi3rDdUhB4Sy28LvuH/s200/O+Martelo+das+Feiticeiras+3.jpg" width="200" /></a></span><span style="font-size: small;">Bacana, não? Com algum "samba-no-pé" o assunto pode até ser <i>linkado </i>ao próprio longa de Moretti, já que, tanto num caso quanto no outro, é a condução da interpretação das Escrituras Sagradas feita lááá no Vaticano quem determina o desenrolar das tramas, <i>lato </i>e <i>stricto</i> <i>sensu</i>.</span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMArxIFxHKnAQRA7m4V2MEESrcgDXwPfsfKleSycpaaJDyXgJSHed6ecFuLMz1E3AaM9EYetewfa_S3fcDUpWq3nvwK4hFs5vsdKB-vCYB_-DGnHUbQDRaTs84VCGeu2EFW1EPtJHGnfY9/s1600/256751_4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMArxIFxHKnAQRA7m4V2MEESrcgDXwPfsfKleSycpaaJDyXgJSHed6ecFuLMz1E3AaM9EYetewfa_S3fcDUpWq3nvwK4hFs5vsdKB-vCYB_-DGnHUbQDRaTs84VCGeu2EFW1EPtJHGnfY9/s200/256751_4.jpg" width="150" /></a></span><span style="font-size: small;">Acerca da questão da perseguição às mulheres e antes da leitura que ora vos recomendo, evoco duas referências fílmicas de qualidade: A primeira data de 1922, e trata-se de um documentário bastante interessante que dialoga diretamente com um dos livros mencionados por Pondé, o <i>Malleus Maleficarum</i>, traduzido como <b>O martelo das feiticeiras, </b>e que nada mais é do que um manual medieval para a identificação, inquisição, tortura e execução de mulheres suspeitas de bruxaria. O título do documentário é <b>Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos</b>, uma produção sueco-dinamarquesa dirigida por Benjamin Christensen que, tão neutro quanto possível, para além de descrever o processo de identificação e combate à feitiçaria, aponta a igorância, o medo e o abuso de poder envolvidos. É de arrepiar, não apenas pela qualidade, mas também pela capacidade de manter-se interessante e atraente ainda hoje, tempos em que os efeitos especiais seduzem muito mais do que a essência das narrativas. (Sobre isso cabe comentar que recentemente assisti <b>O gabinete do Dr Calligari</b> e penso em, em breve, juntá-lo a outras obras das décadas de 20 e 30 que são referência no gênero e escrever algo).</span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></h3>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/pCMAg6ppN7s?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></span></div>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Minha segunda "evocação" é o já mencionado <b>Anticristo </b>(2009), polêmico longa do também dinamarquês Lars Von Trier, que traz nas pesquisas de doutoramento da protagonista - a questão do femicídio - tanto o argumento para o desenrolar da trama quanto o mote para a interpretação de uma imensa quantidade de símbolos belamente distribuídos filme adentro.</span></h3>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/1RsectrOmHo?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></span></div>
<h3 class="post-title entry-title" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É isso! O Pondé da semana segue abaixo, mais explicativo em seu estilo do que o usual, mas divertido em sua dor como sempre.</span></h3>
<h3 class="post-title entry-title">
<span style="font-size: small;">Domingão no Parque - Luiz Felipe Pondé </span></h3>
<h3 class="post-title entry-title" style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-weight: normal;">Folha de São Paulo - Ilustrada, 12/03/2012</span></span></h3>
<div class="eye">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das coisas que mais me espantam é o encanto que muita gente
alimenta pelos hereges medievais, associado à quase total ignorância
sobre suas heresias. Confundem-se manias "teenagers" com heresias
sérias.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Faça uma "regressão para vidas passadas" em alguém e verá que ela foi
uma bruxa queimada na Idade Média ou algo semelhante. E ela acha isso
chique porque pensa nessa "bruxa" queimando sutiã em Paris no século 14.<br />
<br />
Não conheço ninguém que tenha sido uma aborígene insignificante (sem
querer ofender os aborígenes, é claro, trata-se de uma cultura sem a
qual o mundo não sobreviveria).<br />
<br />
Coitadas dessas "bruxas". Para começar, pelo menos no universo entre o
que chamamos hoje de França, Bélgica, Holanda e Alemanha (região do rio
Reno), entre os séculos 13 e 15, essas mulheres não se diziam bruxas,
mas sim cristãs puríssimas.<br />
<br />
O famoso livro "Martelo das Bruxas" (Malleus Maleficarum, para os
íntimos), escrito no século 15, era um manual para "lidar" com essas
cristãs "béguines" (termo sem tradução decente em português porque
chamá-las de "beatas" é maldade).<br />
<br />
Quando você ouvir alguém se referir a essas mulheres como "bruxas",
tenha certeza que ele não sabe do que está falando. Caras como os que
escreveram o "Malleus" é que chamavam essas mulheres de bruxas. Elas
falavam de Deus, de caridade, de amor, de conhecimento "direto de Deus" e
seus desdobramentos (aqui residia o principal problema). A partir do
século 17, mais ou menos, passamos a chamar essas mulheres de místicas.<br />
<br />
Anos atrás, comecei a pesquisar alguns textos dessas místicas medievais.
Interessava-me o fato de que muitas delas tinham sido consideradas
hereges.<br />
<br />
Entre 1994 e 2003, entre Paris e Marburg (Alemanha), me dediquei a duas
delas mais cuidadosamente, Marguerite Porete e Mechthild von Magdeburg.<br />
<br />
A primeira foi queimada como herege em 11 de junho de 1310, em Paris,
place de la Grève (reza a lenda que não deu um pio enquanto ardia na
fogueira). A segunda morreu uma morte razoavelmente tranquila em alguma
data desconhecida entre 1282 e 1294, num mosteiro, apesar de ter
passado por apuros com a Inquisição e de ter sido ajudada, pelo que
parece, por um amigo ou primo abade poderoso da região. <br />
O título do livro queimado com a Porete é "Le Miroir des Simples Âmes
Anéantis" (o espelho das almas simples e nadificadas). Já o da alemã que
escapou do pior é "Das fliessende Licht der Gottheit" (a luz fluente
da deidade).<br />
<br />
Ambos trazem a marca dos excessos dessa escola mística chamada de
renana: elas e Deus são da mesma substância, de onde se deduz, entre
outras coisas, que elas não precisavam seguir códigos morais exteriores
como os que não sabiam o que elas sabiam.<br />
<br />
Elas ("almas liberadas", "nadas divinos") eram sem "matéria de
criatura", logo, Deus. A Igreja e (quase) todo mundo via nisso simples
soberba desmedida.<br />
<br />
A esse "erro de doutrina", o Concílio de Viena de 1313, sobre essas "béguines", chamou de "confusão de substâncias".<br />
<br />
Se recuperarmos o que nos diz o grande historiador Huizinga em seu
"Outono da Idade Média" (ed. Cosac Naify), a execução desses hereges era
um "domingão no parque".<br />
<br />
As famílias iam com seu ovo duro, suas músicas prediletas (estou fazendo
uma adaptação irônica do texto de Huizinga aos dias atuais), seus
cachorros, e faziam tai chi enquanto esperavam a criminosa chegar. Os
homens comparavam seus cavalos ou carroças e as mulheres se
vangloriavam, em silêncio, por seus belos seios e belas pernas. As
feias, como sempre, ficavam bravas com o sorriso seguro das mais
graciosas. <br />
Mas o melhor mesmo era o interesse das crianças e os tomates podres que
seus pais davam para elas para que brincassem de jogá-los nos hereges.
Alguns pais se emocionavam com a precisão de alguns de seus pequenos
príncipes.<br />
<br />
Herege, hoje, é chique, mas lá, você estaria jogando pedra nela como
numa "Geni". Você a veria como se vê hoje um pedófilo, um reacionário,
um capitalista porco, enfim, um desgraçado, uma prostituta, que todo
mundo diz que é "bonitinha", mas todo mundo detesta (menos os
consumidores).</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-36864505213290773002012-03-08T16:31:00.001-03:002012-03-08T16:46:37.358-03:00Maternidade, Inferno e Sétima Arte - 3ª e última parte<div style="text-align: justify;">
Quando comecei a burilar a ideia que resultaria nesta primeira série temática, sabia que teria dificuldades para realizar recortes, dada a quantidade imensa de obras que, à sua maneira, dariam conta de exemplificar com qualidade o texto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A questão da maternidade, como condição para a vida de todas as espécies, é certamente tema fértil. O que me interessava, entretanto, era chamar a atenção para um aspecto em especial: aquelas narrativas fílmicas cujo cerne é a discussão sobre a ambiguidade da figura materna. Ambiguidade esta que se constrói no desvelamento de nuances sombrias da figura maternal sem, contudo, apagar o seu caráter intrinsecamente ligado ao amor, à entrega e à generosidade. A questão era pensar as obras que se fazem a partir justamente da tensão - e não anulação - entre a natural relação de dependência afetiva construída entre mães e filhos e, concomitantemente, aos males, dores e conflitos resultantes desta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBlXGnXznBIOgaxGJsPo9UQB67HgdnckJjVrzE2_WCA9AqhXXjnecFSRQGXgBo8HmQYfW76h2fWgPpgtMWGZSyGxB_xttD63v8xSW2EVrQxWm1OWleR64A_6spyyWHonw7xMQrODGuknDq/s1600/19904476.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-20111219_044313.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBlXGnXznBIOgaxGJsPo9UQB67HgdnckJjVrzE2_WCA9AqhXXjnecFSRQGXgBo8HmQYfW76h2fWgPpgtMWGZSyGxB_xttD63v8xSW2EVrQxWm1OWleR64A_6spyyWHonw7xMQrODGuknDq/s200/19904476.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-20111219_044313.jpg" width="129" /></a>Ainda assim, seria possível, por exemplo, optar por um recorte de gênero. Coisa que não fiz. Aliás, procurei chamar atenção no primeiro texto da série para o fato de o tema ser fértil a diferentes gêneros, dependendo da condução da tensão exposta, bem como da opção da narrativa por assumir ou não uma postura, digamos, maniqueísta, em relação a essa tensão. Interessavam-me menos as óbvias, embora assustadoras, mães deliberadamente más. O "mal" ao qual o "inferno" do título da série se refere não deveria ser necessariamente um traço acentuado do caráter das mães em questão. E nem dos filhos, simplesmente. Isso serviria muito bem a narrativas de horror, em que mulheres inocentes engendram o filho do "coisa ruim", como tem-se visto nos bons e maus herdeiros de <b>O bebê de Rosimary </b>(1968), de Polanski. Recentemente, aliás, acompanhei a primeira temporada da série <b>American Horror Story</b> (criada por Ryan Murphy e Brad Falchuck), em que esta questão é trabalhada de modo muito competente, numa espécie de homenagem, infelizmente só identificada por aqueles que detêm o repertório dos grandes clássicos do cinema de horror.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht2mfbhH2KCOUss1iBejCqBmObW6ru2MWqJTiOwkwRN_S1Pg7qkOAqk8nrpQHx-hhdTsGgpUETBItFWzsu64Pe83QEw0rTAmSHTy-epqo6ULocGbGRcA3dI9hYW3RCFIHUetrrb91zyHrE/s1600/AHS-afterbirth-570x379.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht2mfbhH2KCOUss1iBejCqBmObW6ru2MWqJTiOwkwRN_S1Pg7qkOAqk8nrpQHx-hhdTsGgpUETBItFWzsu64Pe83QEw0rTAmSHTy-epqo6ULocGbGRcA3dI9hYW3RCFIHUetrrb91zyHrE/s320/AHS-afterbirth-570x379.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Jessica Lange, fenomenal como Constance Langdon em AHS, e a "encomenda"</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Penso que uma narrativa torna-se tanto mais complexa e interessante, quanto mais se aproxima da complexidade e ambiguidade intrínsecas à nossa condição enquanto humanos. Nossa tendência a relativizar tudo aquilo para o que não estamos seguros de formar uma opinião é tão prejudicial quanto, entendo, a tendência que temos para não relativizar a forma como produzimos e administramos nossos afetos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No campo doa afetos, é preciso que se mergulhe em certezas e posições absolutas, sob o risco de ser-se rotulado sujeito inseguro, mal resolvido ou emocionalmente doente. Que pena. Creio que muito se sofre mundo afora justamente por criarmos expectativas radicais e puristas neste sentido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quero dizer com isso o que muitos já sabem: amor e ódio, desejo e repulsa, paixões que são, coexistem em tensão constante, cujo limiar é sim muito tênue, muito frágil. E nós, humanos, espertinhos que somos, criamos muitas estratégias para mascarar, subverter e descontaminar os nossos afetos, de maneira que possamos simplesmente não questionar o nosso amor, por exemplo, ante os estados de angústia nos quais mergulhamos vida afora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em outros termos: não há lei que obrigue mães e filhos a amarem-se incondicional e deliberadamente, de modo linear, indiscutível e blindado em relação aos tropeços da vida. Mas fingimos que há, para que possamos por o dedo em riste no nariz daqueles que esperamos que nos amem, ou que esperam por nós serem amados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta sede por equilíbrio e segurança é, a meu ver, a responsável pela repulsa que experimentamos ante narrativas em que filhos demonstram sentimentos "ruins" em relação a mães - e vice-versa. Reconhecer traços de nossa humanidade em personagens assim tão "cruéis" é uma forma de sermos obrigados a assumir a fragilidade de nossa própria estrutura emocional e é, pessoalmente, o tipo de catarse que mais me interessa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4M_UjinMM2FnqB1OQq7hWcJiqf-TcbKeTEzsjY2a77_AwZ21VwBFE5BWyYPyldm252aF-RZdI5oFWgWuh51N2EWWyJV3tmsuJ-7aUIJW_reiQUQbvN9DdfXA0ZaOFp1J_3ggZNdEDD9zC/s1600/1244853347_anticristo04.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4M_UjinMM2FnqB1OQq7hWcJiqf-TcbKeTEzsjY2a77_AwZ21VwBFE5BWyYPyldm252aF-RZdI5oFWgWuh51N2EWWyJV3tmsuJ-7aUIJW_reiQUQbvN9DdfXA0ZaOFp1J_3ggZNdEDD9zC/s320/1244853347_anticristo04.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Charlotte Gainsburg, premiada por sua maternidade em <b>Anticristo</b></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Suspeito que o meu interesse neste viés tenha se materializado a partir de <b>Anticristo </b>(2009), de Lars Von Trier. Ali, narrativa acerca de um processo de assimilação da perda ou, em outras palavras, de um doloroso exercício de expurgação da culpa, "ela" é a mãe que, talvez, tenha sido responsável pela morte do próprio bebê. Diga-se de passagem, em condições bastante favoráveis aos detentores do dedo em riste: durante uma relação sexual. O que se discute ali, a "condição" feminina na cultura patriarcal, remonta simbolicamente ao Édipo freudiano mas, também, à Medeia de Eurípedes.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, trago um dos filmes mais pungentes ao qual assisti nos últimos tempos: <b>Feliz que minha mãe esteja viva</b> (<i>Je suis heureux que ma mère soit vivante, </i>Fr<i>, 2009), </i>dirigido por Claude e Nathan Miller<i>.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
Trata-se de uma história sobre abandono. O que, por si, já permite inferir o seu desenrolar. Mas não é tão simples. A tensão narrativa vai sendo construída primeiramente, no esforço por se retratar o pequeno Thomas Jouvet, que aos cinco anos vive com uma jovem e irresponsável mãe e ajuda a cuidar de seu irmãozinho Patrick, ainda um bebê. A despeito de qualquer dificuldade, Thomas é louco pela mãe. E é este o traço de sua personalidade que conduzirá todos os acontecimentos posteriores ao período em que ele e o irmão são dados para adoção. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdHLYWB6TT0UplEIVpDC35nJ7mn_poJpJM98VD7XnEs2mAsUBfUHEQZioL2eb1EdqK34Tt2IdZ76wHuillvAvj-wb1d1OO3hKU1ZQj1X9QTK-USiZ6bVOfKAa2JlX0JlMMRpLkEvHKKjfw/s1600/felizquemiiinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdHLYWB6TT0UplEIVpDC35nJ7mn_poJpJM98VD7XnEs2mAsUBfUHEQZioL2eb1EdqK34Tt2IdZ76wHuillvAvj-wb1d1OO3hKU1ZQj1X9QTK-USiZ6bVOfKAa2JlX0JlMMRpLkEvHKKjfw/s320/felizquemiiinha.jpg" width="217" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar da "sorte" de terem sido escolhidos juntos por um casal amoroso e bem sucedido, a rejeição de Thomas à vida que lhe foi oferecida e a obsessão em localizar a mãe para finalmente compreender suas razões dominam os 14 anos seguintes. Introvertido, agressivo, contido, o garoto busca exaustivamente por aquela mulher que prometeu a ele que viria buscá-los - e pelo contato com as limitações e falências dela, inevitavelmente. Não custa sugerir atenção para a tensão sexual que se estabelece, embora de modo muito sutil, realmente velado. Sobre relações incestuosas, aliás, fiz algumas sugestões no segundo texto desta série.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais do que isso, seria dar <i>spoilers</i>, e o filme merece ser visto. Menos expressivo na construção de cenas simbólicas que os anteriormente comentados, <b>Feliz que minha mãe esteja viva</b> opta por um realismo bastante útil para a composição de sua atmosfera. Ainda assim, ressalto a breve passagem em que o menino Thomas usa a mãozinha fechada em círculo como uma espécie de luneta para delimitar o foco de seu interesse.<b> </b>Em tempo: o título remete a uma fala de Thomas nos instantes finais da película e estes, eu garanto, são de arrepiar! <b>Espiem!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/ndOccEDq3XQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda, caso o inferno seja a injustiça cometida contra um filho e o percurso doloroso de sua mãe para protegê-lo, há espaço para o belo drama sul-coreano <b>Mother-em busca pela verdade</b> (<i>Madeo</i>, 2009, dir. Joon-ho Bong).<br />
E será o traçado do inferno também a dor de uma mãe cuja filha desaparecida pode ter sido morta num nos ataques terroristas em Londres, como no comovente franco-argelino <b>Destinos Cruzados</b> (<i>London River, </i>2009, dir. Rachid Bouchareb). Mas, nesses casos, a questão da ambiguidade praticamente desaparece.</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-42599530949613759232012-03-08T14:29:00.003-03:002012-03-08T14:29:53.566-03:00Blogs são cobrados por vídeos do YouTube<div style="text-align: justify;">
Reproduzo a íntegra da notícia veiculada ontem no Estadão e que me desestimula a continuar inserindo vídeos nos textos. Na contramão da comodidade (a meu ver, inofensiva) oferecida pelo Youtube, os blogs, ferramentas pessoais (porém abertas, ao contrário das redes sociais, que dependem da aceitação de "amigos"), correm o risco de ter de pagar por RETRANSMISSÃO de material cujos direitos já foram pagos pelo próprio Youtube. Eu, com esse salário mixo de professorinha, não posso nem brincar de correr este risco. Infelizmente.</div>
<br />
<a href="http://blogs.estadao.com.br/link/blogs-sao-cobrados-por-incorporar-videos-do-youtube/" title="Blogs são cobrados por vídeos do YouTube">Blogs são cobrados por vídeos do YouTube</a><br />
<div class="credito" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="credito" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="credito" style="text-align: justify;">
Por Tatiana de Mello Dias</div>
<div class="credito" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<em>Blogueiros recebem cobrança de R$ 350 por incorporarem vídeos do YouTube; Ecad diz que cobrança é legal</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table border="0" class="image" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: left;">
<tbody>
<tr>
<td><img align="right" alt="" height="237" hspace="10" src="http://blogs.estadao.com.br/link/files/2010/08/ecadhome.jpg" vspace="10" width="350" /></td>
</tr>
</tbody>
<caption><em>Glória Braga, superintendente do Ecad. </em></caption></table>
<table border="0" class="image" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: left;"><caption><em>FOTO:Divulgação</em></caption>
</table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
SÃO PAULO – O Ecad, escritório central de arrecadação e distribuição,
quer receber pagamento de blogueiros. A organização começou a cobrar R$
352 mensais de blogueiros que incorporam vídeos do YouTube em seus
posts — a justificativa da entidade é que os vídeos são uma forma de
“retransmissão musical” e, por isso, os donos de blogs precisam pagar
direitos autorais.</div>
<div style="text-align: justify;">
—-<br /><em><a href="https://plus.google.com/u/0/114099371922655059177/posts"></a></em></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira a receber a cobrança foi Mariana Frioli, do blog <a href="http://www.aleitora.com.br/">A Leitora</a>.
Mariana estranhou quando recebeu, na semana passada, uma ligação de um
estagiário do Ecad. Ela não havia fornecido seu celular a ninguém. Além
disso, seu blog é pessoal e fala sobre suas próprias leituras. O
estagiário explicou que a cobrança referia-se ao trailer do filme <em>Delírios de Consumo de Becky Bloom</em> e enviou por e-mail mais detalhes sobre a cobrança.</div>
<div style="text-align: justify;">
“Perguntei porque teria que pagar se eu não fiz upload e meu blog é
pessoal. O rapaz disse que, de acordo com o Ecad, retransmissão tem que
ser paga, independente do Ecad já ter recebido do YouTube”, conta
Mariana.</div>
<div style="text-align: justify;">
No e-mail, o estagiário do Ecad enviou o “cadastro de mídias digitais”, um formulário que o Ecad usa para efetuar a cobrança.</div>
<div style="text-align: justify;">
“Identificamos a transmissão de seu site através de Webcasting, na
categoria Institucional/Promocional de Entretenimento Geral. O valor
mensal é de R$ 352,59 que corresponde a 7 UDAs (Unidade de Direito
Autoral). Segue anexo o formulário para preenchimento. Por favor, nos
devolver por e-mail preenchido, assinado e escaneado”, diz a mensagem. O
formulário tem espaço até para os blogueiros fornecerem os dados de
cobrança.</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não existe nenhum trabalho de cobrança de direito autoral focado em
blogs e sites, porém, todo usuário que executa música publicamente em
site/blog ao ser captado pelo setor responsável do Ecad, pode receber um
contato”, justifica a assessoria do escritório. “O blog foi captado em
um trabalho rotineiro e recebeu o contato. Como dito anteriormente, caso
haja execução pública musical, há obrigatoriedade do pagamento da
retribuição autoral”, completa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://blogs.estadao.com.br/link/files/2012/03/formecad.jpg"><img alt="" class="size-full wp-image-65640 aligncenter" height="580" src="http://blogs.estadao.com.br/link/files/2012/03/formecad.jpg" width="450" /></a><br />
<em>O formulário de cadastro: Ecad pede endereço de cobrança e data de vencimento. FOTO: Reprodução</em></div>
<div style="text-align: justify;">
Só que o Ecad já recebe direitos autorais de vídeos postados no YouTube. O escritório <a href="http://blogs.estadao.com.br/link/o-youtube-e-o-ecad/">assinou, no ano passado, um acordo com o Google </a>para receber direitos por todos os vídeos musicais que circulam na plataforma.</div>
<div style="text-align: justify;">
“As diversas formas de utilização são independentes entre si,
conforme preconiza a Lei de Direitos Autorais e, neste caso, o blog
realiza uma retransmissão”, tenta justificar o órgão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Segundo a assessoria, o Ecad está realizando um trabalho focado em
“conscientização” para a necessidade de pagamentos de direitos autorais.
Se os blogueiros contatados não pagarem, eles podem ser alvo de ação
judicial. “Todo usuário que executa música publicamente em site ou blog
ao ser captado pelo setor responsável do Ecad, pode receber um contato”,
diz o escritório.</div>
<div style="text-align: justify;">
O jornal O Globo <a href="http://oglobo.globo.com/cultura/ecad-cobra-taxa-mensal-de-blogs-que-utilizam-videos-do-youtube-4233380">divulgou </a>nesta quarta-feira, 7, que outro blog, o <a href="http://www.caligraffiti.com.br/">Caligraffiti</a>, também recebeu uma cobrança do tipo.</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-18984247198205576422012-03-08T11:50:00.003-03:002012-03-08T11:59:39.638-03:00Em que Paris está a sua meia-noite?<div style="text-align: justify;">
Ah, eu poderia aproveitar o ensejo e, tendo em vista a data, escrever sobre as mulheres. Mas elas, enquanto gênero e nas suas especificidades, muito embora tenham povoado minha pesquisa de doutoramento defendida mais dois anos atrás, francamente não são algo que eu deseje por hora em meus pensamentos. Ando um tanto enjoada, inclusive, de pensar na forma como o fato de ser mulher determina a condução do meu próprio caminho. Bah. Um feliz dia para as mocinhas, de todo modo. Hoje e sempre que possível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desejo pensar sobre sonhos, projetos, metas, que todos os temos e cremos persegui-los. Sejam sonhos singelos ou projetos megalômanos, penso que a dinâmica de uma vida saudável e produtiva depende muito da manutenção, não dos sonhos em si, mas do nosso movimento cotidiano na direção deles. E, que interessante, existem muitas diferentes dimensões para sonhar, desde aqueles inalcançáveis projetos que servem apenas como inspiração, até o planejamento que permite a aquisição de bens, a regularização de uma situação, a oficialização de um relacionamento. Cada um sonha conforme pode e o quanto aguenta, afinal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjomaAccPyNBEgWccIehuGXH-NmPn9ZOHWzvjxhu7FBvP9YnMR3lhh3cWUEq3UhVOWfH94Uhlv0yCsnSghKgtT_RotBsGim1jPCAyI4qn0CCWfFz0Dkdq-SoSAgRJmNkZF2E4iHY8BsfPAI/s1600/CINEnil-4-Meia-Noite-em-Paris.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjomaAccPyNBEgWccIehuGXH-NmPn9ZOHWzvjxhu7FBvP9YnMR3lhh3cWUEq3UhVOWfH94Uhlv0yCsnSghKgtT_RotBsGim1jPCAyI4qn0CCWfFz0Dkdq-SoSAgRJmNkZF2E4iHY8BsfPAI/s320/CINEnil-4-Meia-Noite-em-Paris.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O texto que recomendo abaixo foi escrito pelo psicanalista Contardo Calligaris, uma leitura que eu persigo, muito embora me agrade algumas vezes mais do que em outras, por ocasião do lançamento do último longa de Woody Allen, <b>Meia-Noite em Paris </b>(<i>Midnight in Paris, </i>Es/Eua, 2011). Filme que, aliás, tive o prazer de assistir numa das minhas salas de cinema favoritas (Cine Livraria Cultura, o antigo Bom Bril), e na companhia de algumas das pessoas que mais tem me permitido sonhar ao longo da vida. Pelo menos, aquela sorte de sonhos que me permitem compor uma persona muito próxima do meu ideal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nele, Calligaris usa como ponto para reflexão as inquietações do protagonista, escritor frustado e "vendido" para o sistema, que deseja escrever alta literatura e finalmente se vê diante da possibilidade de ter seu projeto lido por grandes referências de sua biblioteca. Esta divertida pegada surreal faz do longa uma viagem deliciosa pelos delírios de qualquer leitor, escritor ou amante da literatura. Poder sentar num bistrô com seus "mestres" e trocar figurinhas com pessoas de fato interessadas no que você tem a dizer... que sonho! (perdão pelo trocadilho infame). O que Calligaris faz, entretanto, é partir desta bela imagem para nos levar a pensarmos sobre uma tentação muito grande - da qual sou vítima confessa - a de abrir mão de nossos sonhos em nome de uma temor mascarado de falhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJYSh-bXY3D4_YFMyVjs3oUMVtwrmR3wxfrIYDzTNkvSmA_3vyFDoytoZ4mrP8N-y3mX1OUrYPeeUoPv5qVXAuZcZvqJCTnR-0WtBQ9v9eIihjbVlcXZdsPUZ4OZTzKKvmKZXjay0BjIgc/s1600/do-not-reuse-pic-a-scene-from-the-film-midnight-in-paris-image-3-4396675.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJYSh-bXY3D4_YFMyVjs3oUMVtwrmR3wxfrIYDzTNkvSmA_3vyFDoytoZ4mrP8N-y3mX1OUrYPeeUoPv5qVXAuZcZvqJCTnR-0WtBQ9v9eIihjbVlcXZdsPUZ4OZTzKKvmKZXjay0BjIgc/s320/do-not-reuse-pic-a-scene-from-the-film-midnight-in-paris-image-3-4396675.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Algum tempo atrás, ouvi de um grande amigo - em muitos sentidos, um "mestre" - que, para a obtenção do sucesso profissional, a diferença entre uma e outra pessoa sobre as quais falávamos, não estaria no talento (ou sensibilidade, vocação, brilhantismo, <i>wathever</i>) e sim na disciplina, que ele cunhou como "pé-de-boisismo". Tenho absoluta certeza de que, no mundo em que vivemos, ele está coberto de razão. Ainda assim, meu coração taurino continua convencido de que talento é um bem inato, enquanto disciplina se adquire, tal qual músculos definidos na academia. E isso depende muito da equação que direciona os anseios para a obtenção de metas - coisa dos disciplinados, ou para o vislumbramento do sonho, coisa de boa parte dos talentosos (ou não) e dos frustrados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A maturidade traz o demérito da consciência de estarmos sendo constantemente julgados, avaliados, rotulados, inclusive, pelas pessoas mais próximas, que até nos amam. Para o sonhador, isso não é nada bom. Não enquadrar-se num PERFIL, não atender às expectativas do meio quando se é bem jovem já não é a forma mais serena de viver. Se disso depende o pagamento de suas contas então, muito pior. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O fato é que em alguns momentos, a autocrítica e o medo do julgamento embotam os sonhos. Da mesma maneira que nos é dada liberdade para sonhar, temos a liberdade de escolher em qual direção seguir: na construção de projetos ou numa rotina de sonhos embalada por quem poderíamos ter sido se "isso ou aquilo". E tornar-se amargo é algo que ninguém quer. Daí a necessidade de se perguntar algumas vezes na vida em que Paris fica a sua meia-noite. Em que esquina escura é preciso esperar para que seja possível viver mais em acordo com os próprios projetos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, não pretendo concluir nada. Este longo preâmbulo, antes de se tornar brega e chato, vem apenas para introduzir o texto:</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b>É FÁCIL DESISTIR DOS SONHOS - CONTARDO CALLIGARIS</b><br />
<br />
<div style="text-align: right;">
Folha de São Paulo, Ilustrada, 07 de julho de 2011<b> </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
GIL PENDER, o protagonista do último filme de Woody Allen, "Meia-Noite em Paris", quer deixar de escrever roteiros de sucesso (que ele mesmo acha medíocres) para se dedicar a coisas "mais sérias" e menos lucrativas: um romance, por exemplo. Ele acumulou dinheiro suficiente para tentar essa aventura por um tempo, em Paris, como um escritor americano dos anos 1920.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Infelizmente, Pender está prestes a se casar com uma noiva que aprecia muito seu sucesso atual, mas não tem gosto algum pela incerteza (financeira) de seu sonho. Tudo indica que ele se dobrará às expectativas da noiva, dos futuros sogros e do mundo, renunciando a seu desejo. Talvez seja por causa dessa renúncia, aliás, que noiva e sogros o desprezam (todo o mundo acaba desprezando o desejo de quem despreza seu próprio desejo).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas eis que, na noite parisiense, alguns fantasmas do passado levam Pender para a época na qual poderia viver uma vida diferente e mais intensa -a época na qual seria capaz de fazer apostas arriscadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A idade de ouro de Pender é a Paris de Hemingway, Fitzgerald, Cole Porter, Picasso etc. Como disse Gertrude Stein (outra protagonista do sonho do herói), eles são a geração perdida, entre uma guerra terrível e outra pior por vir (isso ela não sabia, mas talvez pressentisse). Por que eles fariam a admiração de Pender e a nossa? Hemingway responde quando explica a Pender que, para amar e escrever, é preciso não ter medo da morte. Claro, não ter medo da morte talvez seja pedir muito, mas Pender poderia mesmo se beneficiar com um pouco mais de coragem; se conseguisse decidir sua vida sem medo da noiva e dos sogros, seria um progresso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Concordo com o que escreveu Marcelo Coelho, em artigo neste mesmo espaço na edição de 22 de junho: uma moral do filme é que "temos só uma vida para viver -a nossa", ou seja, tudo bem sonhar com a idade de ouro, à condição de acordar um dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Agora, o que emperra a vida de Pender não é seu sonho nostálgico, é o presente. A nostalgia, aliás, é seu recurso para não se esquecer completamente de seus próprios sonhos. É como se, para preservar seu desejo, ele o situasse numa outra época. Mas preservá-lo de quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Antes de mais nada, um conselho. Acontece, às vezes, que nosso sucesso não tenha nada a ver com nossos sonhos -por exemplo, você queria ser promotor de Justiça, mas fez algum dinheiro com a imobiliária de família e aí ficou, renunciando a seu sonho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Nesses casos, uma precaução: case-se com alguém que ame seu sonho frustrado e não só seu sucesso; sem isso, inelutavelmente, chegará o dia em que você acusará seu casal de ter sido a causa de sua renúncia. Em outras palavras, é possível e, às vezes, necessário renunciar a nossos sonhos, mas é preciso escolher como parceiro alguém que goste desses sonhos e dos jeitos um pouco malucos que usamos para acalentá-los (no caso de Pender, passeios por Paris à meia-noite e na chuva).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Voltemos agora à pergunta: contra quem Pender precisou preservar seu desejo, mandando-o para outra época? Contra a noiva que desconsiderava seus sonhos? Aqui vem outra moral do filme.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Pender não é nenhum caso raro: todos nós, em média, dedicamos mais energia à tentativa de silenciar nossos sonhos do que à tentativa de realizá-los. Muitos dizem que desistiram de sonhos dos quais os pais não gostavam por medo de perder o amor deles. Mas por que Pender recearia perder o amor da noiva, que ele não ama, e dos sogros, que ele ama ainda menos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O fato é que somos complacentes com as expectativas dos outros (que amamos ou não) à condição que elas nos convidem a desistir de nosso desejo. É isso mesmo, a frase que precede não saiu errada: adoramos nos conformar (ou nos resignar) às expectativas que mais nos afastam de nossos sonhos. Aparentemente, preferimos ser o romancista potencial que foi impedido de mostrar seu talento a ser o romancista que tentou e revelou ao mundo que não tinha talento. Desistindo de nossos sonhos, evitamos fracassar nos projetos que mais nos importam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Em suma, da próxima vez que você se queixar de que seu casal afasta você de seus sonhos, lembre-se: foi você quem o escolheu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E mais um conselho: se você encontrar alguém disposto a caminhar na chuva do seu lado, não fuja; molhe-se.<br />
<br />
ccalligari@uol.com.br<br />
<br />
@ccalligaris </div>
<br />Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-76992685571493412252012-03-07T13:17:00.002-03:002012-03-07T13:17:59.665-03:00Para quem ainda não entendeu o Tempo Psicológico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfHuL-MoYcequdEHxnlQ5oEugigg6OW_-u8M1gf6z_kZbfPEUSgf7mPr5Xic_A01Ugqw1HztsocKS1HwRebLhKmQrSUc25__fn1lAV5e9ga0okxvHc6nEAp1ioaQNgaM86ikGT8dITRZzw/s1600/orlando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfHuL-MoYcequdEHxnlQ5oEugigg6OW_-u8M1gf6z_kZbfPEUSgf7mPr5Xic_A01Ugqw1HztsocKS1HwRebLhKmQrSUc25__fn1lAV5e9ga0okxvHc6nEAp1ioaQNgaM86ikGT8dITRZzw/s400/orlando.jpg" width="250" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Orlando Pedroso em "Depósito de Tirinhas" </span></div>
<div class="data_field" style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><a href="http://www.deposito-de-tirinhas.tumblr.com/" rel="nofollow" target="_blank">http://www.deposito-de-tirinhas.tumblr.com</a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-1844875710187564652012-03-07T12:42:00.003-03:002012-03-07T12:43:09.346-03:00Eliane Brum e a sabedoria de envelhecer sem cair no ridículo<span style="font-size: medium;"></span><br />
<div class="materia-titulo">
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<a 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20submetida%20ao%20termo%20%E2%80%9Cidoso%E2%80%9D:%20%E2%80%9CHavia%20uma%20aldeia%20em%20algum%20lugar,%20nem%20maior%20nem%20menor,%20com%20velhos%20e%20velhas%20que%20velhavam...%E2%80%9D.%20Velho%20%C3%A9%20uma%20conquista.%20Idoso%20%C3%A9%20uma%20rendi%C3%A7%C3%A3o.%20Como%20em%202012%20passei%20a%20estar%20mais%20perto%20dos%2050%20do%20que%20dos%2040,%20j%C3%A1%20come%C3%A7o%20a%20ouvir%20sobre%20mim%20mesma%20um%20outro%20tipo%20de%20bobagem.%20%20O%20tal%20do%20%E2%80%9Cesp%C3%ADrito%20jovem%E2%80%9D.%20Envelhecer%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20f%C3%A1cil.%20Longe%20disso.%20Ainda%20estou%20me%20acostumando%20a%20ser%20chamada%20de%20senhora%20sem%20olhar%20para%20os%20lados%20para%20descobrir%20com%20quem%20est%C3%A3o%20falando.%20%20Mas%20se%20existe%20algo%20bom%20em%20envelhecer,%20como%20j%C3%A1%20disse%20em%20uma%20coluna%20anterior,%20%C3%A9%20o%20%E2%80%9Cesp%C3%ADrito%20velho%E2%80%9D.%20Esse%20%C3%A9%20grande.%20Vem%20com%20toda%20a%20trajet%C3%B3ria%20e%20%C3%A9%20cumulativo.%20Sei%20muito%20mais%20do%20que%20sabia%20antes,%20o%20que%20significa%20que%20sei%20muito%20menos%20do%20que%20achava%20que%20sabia%20aos%2020%20e%20aos%2030.%20Sou%20consciente%20de%20que%20tudo%20%E2%80%93%20fama%20ou%20fracasso%20%E2%80%93%20%C3%A9%20ef%C3%AAmero.%20Me%20apavoro%20bem%20menos.%20N%C3%A3o%20embarco%20em%20qualquer%20papinho%20mole.%20Me%20estatelei%20de%20cara%20no%20ch%C3%A3o%20um%20n%C3%BAmero%20de%20vezes%20suficiente%20para%20saber%20que%20acabo%20me%20levantando.%20Tento%20conviver%20bem%20com%20as%20minhas%20marcas.%20Conhe%C3%A7o%20cada%20vez%20mais%20os%20meus%20limites%20e%20tenho%20me%20batido%20para%20aceit%C3%A1-los.%20Continua%20doendo%20bastante,%20mas%20consigo%20lidar%20melhor%20com%20as%20minhas%20perdas.%20Troco%20com%20mais%20frequ%C3%AAncia%20o%20drama%20pelo%20humor%20nos%20comezinhos%20do%20cotidiano.%20Mantenho%20as%20mem%C3%B3rias%20que%20me%20importam%20e%20jogo%20os%20entulhos%20fora.%20Tor%C3%A7o%20para%20que%20as%20pessoas%20que%20amo%20envelhe%C3%A7am%20porque%20elas%20ficam%20menos%20vaidosas%20e%20mais%20divertidas.%20E%20espero%20que%20tenha%20tempo%20para%20envelhecer%20muito%20mais%20o%20meu%20esp%C3%ADrito,%20porque%20ainda%20sofro%20%C3%A0%20toa%20e%20tenho%20umas%20cracas%20grudadas%20%C3%A0%20minha%20alma%20das%20quais%20preciso%20me%20livrar%20porque%20n%C3%A3o%20me%20pertencem.%20Espero%20chegar%20aos%2080%20mais%20interessante,%20intensa%20e%20engra%C3%A7ada%20do%20que%20sou%20hoje.%20Envelhecer%20o%20esp%C3%ADrito%20%C3%A9%20engrandec%C3%AA-lo.%20Alarg%C3%A1-lo%20com%20experi%C3%AAncias.%20Apalpar%20o%20tamanho%20cada%20vez%20maior%20do%20que%20n%C3%A3o%20sabemos.%20S%C3%B3%20somos%20s%C3%A1bios%20na%20juventude.%20Como%20disse%20Oscar%20Wilde,%20%E2%80%9Cn%C3%A3o%20sou%20jovem%20o%20suficiente%20para%20saber%20tudo%E2%80%9D.%20Na%20velhice%20havemos%20de%20ser%20ignorantes,%20fascinados%20pelas%20dimens%C3%B5es%20cada%20vez%20mais%20superlativas%20do%20que%20desconhecemos%20e%20queremos%20buscar.%20%20%C3%89%20essa%20a%20conquista.%20Esp%C3%ADrito%20jovem?%20Nem%20tentem.%20Acho%20que%20dev%C3%ADamos%20nos%20rebelar.%20E%20n%C3%A3o%20permitir%20que%20nos%20roubem%20nem%20a%20velhice%20nem%20a%20morte,%20n%C3%A3o%20deixar%20que%20nos%20reduzam%20a%20palavras%20bobas,%20%C3%A0%20cosm%C3%A9tica%20da%20linguagem.%20Nem%20consentir%20que%20calem%20o%20que%20temos%20a%20dizer%20e%20a%20viver%20nessa%20fase%20da%20vida%20que,%20se%20n%C3%A3o%20chegou,%20ainda%20chegar%C3%A1.%20Pode%20parecer%20uma%20besteira,%20mas%20eu%20cometo%20minha%20pequena%20subvers%C3%A3o%20jamais%20escrevendo%20a%20palavra%20%E2%80%9Cidoso%E2%80%9D,%20%E2%80%9Cterceira%20idade%E2%80%9D%20e%20afins.%20Exceto,%20claro,%20se%20for%20para%20arrancar%20seus%20la%C3%A7os%20de%20fita%20e%20revelar%20sua%20indig%C3%AAncia.%20Quando%20chegar%20a%20minha%20hora,%20por%20favor,%20me%20chamem%20de%20velha.%20Me%20sentirei%20honrada%20com%20o%20reconhecimento%20da%20minha%20for%C3%A7a.%20Sei%20que%20estou%20envelhecendo,%20testemunho%20essa%20passagem%20no%20meu%20corpo%20e,%20para%20o%20futuro,%20espero%20contar%20com%20um%20esp%C3%ADrito%20cada%20vez%20mais%20velho%20para%20ter%20a%20coragem%20de%20encerrar%20minha%20travessia%20com%20a%20gra%C3%A7a%20de%20um%20espanto.%20%28Eliane%20Brum%20escreve%20%C3%A0s%20segundas-feiras.%29%20" target="_self"><span style="font-size: small;"></span></a></h1>
<h2 style="font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">"A juventude é um erro que o tempo corrige", meus caros. Palavras de uma antiga mestra.</span></h2>
<h2 style="font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Associar o tempo de vida à experiência e esta à sabedoria já foi uma forma de organizar e hierarquizar sociedades. Indígenas viveram assim, outras sociedades antigas também. A figura do ancião, entretanto, é tão menosprezada em nosso tempo - desprezada mesmo, vez que nada significa além de iminência da morte - que impulsionou uma corrida pela "recuperação" estética e comportamental da juventude que, muitas vezes, beira o caricatural. </span></h2>
<h2 style="font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sem cair no reducionismo da autoajuda, creio que todas as idades tem o seu tempo e ter uma "alma jovem" não precisa ser, nem de longe, sinônimo de comportamentos imaturos, posturas anacrônicas e expressões eufêmicas que buscam mascarar as "cicatrizes" impressas em nosso corpo e espírito a medida que vamos vivendo. Entretanto, uma sociedade que avalia e organiza seus membros pelo que fazem, tem e parecem naturalmente ignora - ou pelo menos julga secundário - o que viveram, conhecem, sabem, são.</span></h2>
<h2 style="font-weight: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> Assim como Eliane Brum neste interessantíssimo artigo, procuro
aceitar a minha finitude inevitável com a consciência de que eu e o
tempo temos feito uma troca relativamente justa. O politicamente correto
expresso pela linguagem, aos meus olhos, mais do que um exercício de eufemismo mental, é só uma das muitas formas atuais de manifestar
a nossa falta de bom senso.</span></h2>
<h2 style="font-weight: normal; text-align: justify;">
</h2>
<h2 style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><i></i><i></i></span></h2>
</div>
<div class="materia-assinatura-letra">
<div class="materia-assinatura">
<div class="vcard author">
<span style="font-size: large;"><b class="fn">ME CHAMEM DE VELHA - ELIANE BRUM </b></span></div>
<h2 style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><i> </i><i>"A velhice sofreu uma cirurgia plástica na linguagem"</i></span></h2>
<div class="vcard author" style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><b class="fn"> <span style="font-weight: normal;">Revista Época, 20 de fevereiro de 2012</span></b></span></div>
<div class="vcard author">
<br /></div>
<div class="vcard author" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b class="fn"></b>Na semana passada,
sugeri a uma pessoa próxima que trocasse a palavra “idosas” por “velhas”
em um texto. E fui informada de que era impossível, porque as pessoas
sobre as quais ela escrevia se recusavam a ser chamadas de “velhas”: só
aceitavam ser “idosas”. Pensei: “roubaram a velhice”. As palavras
escolhidas – e mais ainda as que escapam – dizem muito, como Freud já
nos alertou há mais de um século. Se testemunhamos uma epidemia de
cirurgias plásticas na tentativa da juventude para sempre (até a morte),
é óbvio esperar que a língua seja atingida pela mesma ânsia. Acho que
“idoso” é uma palavra “fotoshopada” – ou talvez um lifting completo na
palavra “velho”. E saio aqui em defesa do “velho” – a palavra e o
ser/estar de um tempo que, se tivermos sorte, chegará para todos. </span></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2317777645623341456" name="more"></a></span></div>
<div class="materia-conteudo entry-content cda-materia">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Desde que a juventude virou não mais uma fase da vida, mas uma vida
inteira, temos convivido com essas tentativas de tungar a velhice também
no idioma. Vale tudo. Asilo virou casa de repouso, como se isso mudasse
o significado do que é estar apartado do mundo. Velhice virou terceira
idade e, a pior de todas, “melhor idade”. Tenho anunciado a amigos e
familiares que, se alguém me disser, em um futuro não tão distante, que
estou na “melhor idade”, vou romper meu pacto pessoal de não violência. O
mesmo vale para o primeiro que ousar falar comigo no diminutivo, como
se eu tivesse voltado a ser criança. Insuportável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A velhice é o que é. É o que é para cada um, mas é o que é para
todos, também. Ser velho é estar perto da morte. E essa é uma
experiência dura, duríssima até, mas também profunda. Negá-la é não só
inútil como uma escolha que nos rouba alguma coisa de vital. Semanas
atrás, em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre a morte.
E eu disse que queria viver a minha morte. Ele talvez não tenha
entendido, porque afirmou: “Você não quer morrer”. E eu insisti na
resposta: “Eu quero viver a minha morte”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Na adolescência, eu acalentava a sincera esperança de que algum
vampiro achasse o meu pescoço interessante o suficiente para me garantir
a imortalidade. Mas acabei aceitando que vampiros não existem, embora
circulem muitos chupadores de sangue por aí. Isso só para dizer que é
claro que, se pudesse escolher, eu não morreria. Mas essa é uma
obviedade que não nos leva a lugar algum. Que ninguém quer morrer, todo
mundo sabe. Mas negar o inevitável serve apenas para engordar o nosso
medo sem que aprendamos nada que valha a pena.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A morte tem sido roubada de nós. E tenho tomado providências para que
a minha não seja apartada de mim. A vida é incontrolável e posso morrer
de repente. Mas há uma chance razoável de que eu morra numa cama e,
nesse caso, tudo o que eu espero da medicina é que amenize a minha dor.
Cada um sabe do tamanho de sua tragédia, então esse é apenas o meu
querer, sem a pretensão de que a minha escolha seja melhor que a dos
outros. Mas eu gostaria de estar consciente, sem dor e sem tubos, porque
o morrer será minha última experiência vivida. Acharia frustrante
perder esse derradeiro conhecimento sobre a existência humana. Minha
última chance de ser curiosa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Há uma bela expressão que precisamos resgatar, cujo autor não
consegui localizar: “A morte não é o contrário da vida. A morte é o
contrário do nascimento. A vida não tem contrários”. A vida, portanto,
inclui a morte. Por que falo da morte aqui nesse texto? Porque a mesma
lógica que nos roubou a morte sequestrou a velhice. A velhice nos lembra
da proximidade do fim, portanto acharam por bem eliminá-la. Numa
sociedade em que a juventude é não uma fase da vida, mas um valor,
envelhecer é perder valor. Os eufemismos são a expressão dessa
desvalorização na linguagem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não, eu não sou velho. Sou idoso. Não, eu não moro num asilo. Mas
numa casa de repouso. Não, eu não estou na velhice. Faço parte da melhor
idade. Tenho muito medo dos eufemismos, porque eles soam bem
intencionados. São os bonitinhos mas ordinários da língua. O que fazem é
arrancar o conteúdo das letras que expressam a nossa vida. Justo quando
as pessoas têm mais experiências e mais o que dizer, a sociedade tenta
confiná-las e esvaziá-las também no idioma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Chamar de idoso aquele que viveu mais é arrancar seus dentes na
linguagem. Velho é uma palavra com caninos afiados – idoso é uma palavra
banguela. Velho é letra forte. Idoso é fisicamente débil, palavra que
diz de um corpo, não de um espírito. Idoso fala de uma condição efêmera,
velho reivindica memória acumulada. Idoso pode ser apenas “ido”, aquele
que já foi. Velho é – e está. Alguém vê um Boris Schnaiderman, uma
Fernanda Montenegro e até um Fernando Henrique Cardoso como idosos? Ou
um Clint Eastwood? Não. Eles são velhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Idoso e palavras afins representam a domesticação da velhice pela
língua, a domesticação que já se dá no lugar destinado a eles numa
sociedade em que, como disse alguém, “nasce-se adolescente e morre-se
adolescente”, mesmo que com 90 anos. Idosos são incômodos porque usam
fraldas ou precisam de ajuda para andar. Velhos incomodam com suas
ideias, mesmo que usem fraldas e precisem de ajuda para andar.
Acredita-se que idosos necessitam de recreacionistas. Acredito que
velhos desejam as recreacionistas. Idosos morrem de desistência, velhos
morrem porque não desistiram de viver.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Basta evocar a literatura para perceber a diferença. Alguém leria um
livro chamado “O idoso e o mar”? Não. Como idoso o pescador não lutaria
com aquele peixe. Imagine então essa obra-prima de Guimarães Rosa, do
conto “Fita Verde no Cabelo”, submetida ao termo “idoso”: “Havia uma
aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que
velhavam...”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Velho é uma conquista. Idoso é uma rendição.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Como em 2012 passei a estar mais perto dos 50 do que dos 40, já
começo a ouvir sobre mim mesma um outro tipo de bobagem. O tal do
“espírito jovem”. Envelhecer não é fácil. Longe disso. Ainda estou me
acostumando a ser chamada de senhora sem olhar para os lados para
descobrir com quem estão falando. Mas se existe algo bom em envelhecer,
como já disse em uma coluna anterior, é o “espírito velho”. Esse é
grande.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Vem com toda a trajetória e é cumulativo. Sei muito mais do que sabia
antes, o que significa que sei muito menos do que achava que sabia aos
20 e aos 30. Sou consciente de que tudo – fama ou fracasso – é efêmero.
Me apavoro bem menos. Não embarco em qualquer papinho mole. Me estatelei
de cara no chão um número de vezes suficiente para saber que acabo me
levantando. Tento conviver bem com as minhas marcas. Conheço cada vez
mais os meus limites e tenho me batido para aceitá-los. Continua doendo
bastante, mas consigo lidar melhor com as minhas perdas. Troco com mais
frequência o drama pelo humor nos comezinhos do cotidiano. Mantenho as
memórias que me importam e jogo os entulhos fora. Torço para que as
pessoas que amo envelheçam porque elas ficam menos vaidosas e mais
divertidas. E espero que tenha tempo para envelhecer muito mais o meu
espírito, porque ainda sofro à toa e tenho umas cracas grudadas à minha
alma das quais preciso me livrar porque não me pertencem. Espero chegar
aos 80 mais interessante, intensa e engraçada do que sou hoje.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Envelhecer o espírito é engrandecê-lo. Alargá-lo com experiências.
Apalpar o tamanho cada vez maior do que não sabemos. Só somos sábios na
juventude. Como disse Oscar Wilde, “não sou jovem o suficiente para
saber tudo”. Na velhice havemos de ser ignorantes, fascinados pelas
dimensões cada vez mais superlativas do que desconhecemos e queremos
buscar. É essa a conquista. Espírito jovem? Nem tentem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Acho que devíamos nos rebelar. E não permitir que nos roubem nem a
velhice nem a morte, não deixar que nos reduzam a palavras bobas, à
cosmética da linguagem. Nem consentir que calem o que temos a dizer e a
viver nessa fase da vida que, se não chegou, ainda chegará. Pode parecer
uma besteira, mas eu cometo minha pequena subversão jamais escrevendo a
palavra “idoso”, “terceira idade” e afins. Exceto, claro, se for para
arrancar seus laços de fita e revelar sua indigência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha. Me
sentirei honrada com o reconhecimento da minha força. Sei que estou
envelhecendo, testemunho essa passagem no meu corpo e, para o futuro,
espero contar com um espírito cada vez mais velho para ter a coragem de
encerrar minha travessia com a graça de um espanto.</span></div>
<br />
<span style="font-size: small;"><i>(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)</i> </span></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-11584388534718303982012-03-07T12:04:00.001-03:002012-03-07T12:04:32.982-03:00Peça de teatro traz reflexão sobre quem "trabalha com a alma e é julgada pela aparência"<div style="text-align: justify;">
Antes de postar a matéria abaixo, interessante sob vários aspectos - da metalinguagem à reflexão em termos de valores em nossa sociedade - detive-me um instante angustiada com a questão da reprodução de material exclusivo para assinantes do jornal, sobretudo na data de publicação do texto. Fazemos isso com frequência no Facebook, mas aqui ainda não sei exatamente como a banda toca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda mais por se tratar de matéria do meu querido amigo Marco Aurélio que, ao contrário dos colunistas que costumo divulgar, pode em cinco minutos me ligar ou escrever me dando a maior bronca... espero que não.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A decisão por postar veio imediatamente após localizá-la, na íntegra, em outro blog. Bom, se alguém começou, não fui eu! Vez por outra, devo fazer isso, sempre que, nas leituras do dia a dia, encontrar material que desejo compartilhar. Vejamos no que dá. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>Beleza é fundamental?</b></span> </div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Folha de São Paulo, Ilustrada, 07 de março de 2012<br />
</div>
<span class="credit" style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: small; font-weight: bold;">MARCO AURÉLIO CANÔNICO</span><br style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium;" /> <span class="origin" style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: 13px;">DO RIO</span><br />
<br style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium;" /> <br />
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
A
feiura, diz Umberto Eco, não é só mais divertida, mas mais interessante
do que a beleza. O raciocínio está bem ilustrado em "A Vingança do
Espelho: A História de Zezé Macedo", que estreia na sexta, em São Paulo.</div>
<table class="articleGraphic" style="background-color: white; color: black; font-family: Times New Roman;">
<tbody>
<tr><td class="articleGraphicCredit" style="font-size: 10px;"><br />
</td><td class="articleGraphicImage"><br />
</td><td class="articleGraphicCaption" style="font-size: 14px; font-style: italic;"><br /></td></tr>
</tbody>
</table>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
<a href="http://f.i.uol.com.br/fotografia/2012/03/06/131069-370x270-1.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Elenco da peça "A Vingança do Espelho", que chega a SP" border="0" src="http://f.i.uol.com.br/fotografia/2012/03/06/131069-370x270-1.jpeg" /></a>A
peça conta a vida da atriz cujo nome, para boa parte das pessoas, traz à
mente uma única imagem, se tanto: a da senhora baixinha e feiosa, de
voz esganiçada, fazendo a puritana dona Bela ("Só pensa naquilo") na
"Escolinha do Professor Raimundo".</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
E,
no entanto, Maria José de Macedo (1916-1999) teve uma vasta e popular,
ainda que hoje esquecida, carreira no cinema, na TV e no rádio, além de
ter publicado poesia.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
Marcada
por sua aparência e sua voz, usou-as como atributos para se firmar como
atriz cômica. Na vida privada, se dilacerou -inclusive fisicamente, por
meio de inúmeras cirurgias plásticas- por conta da aparência.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
"A
Vingança do Espelho" mostra esses dilemas e alegrias numa narrativa
metalinguística, criada pelo autor Flávio Marinho: os atores representam
um grupo teatral que prepara um espetáculo sobre Zezé Macedo.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
O
público assiste às discussões sobre como montar a peça, com os atores
apresentando e debatendo a vida e a carreira de Zezé e encenando, de
forma não cronológica, alguns momentos marcantes -a fase na Atlântida, a
estreia no rádio com o apoio de Dias Gomes, a "Escolinha".</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
"É
uma peça muito simples, é em cima do ator, do espaço e da relação com o
público. Como fala o Amir [Haddad, diretor], não tem truque, é só
magia", diz Betty Gofman, que interpreta a atriz a quem cabe o papel de
Zezé Macedo na montagem.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
"Em
momento algum eu tentei imitar a Zezé. Vi poucos filmes, pouca coisa
dela. O que a gente fez foi tentar entender o que se passava na alma
daquela mulher, tentar sentir o que ela sentia."</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
<b>HOMENAGEM AO TEATRO</b></div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
Aproveitando o fato de ser uma peça sobre a montagem de uma peça, "A
Vingança do Espelho" discute a própria profissão teatral: os baixos
salários, a escalação de atores com "presença midiática, para tirar a
companhia do buraco", o favorecimento dos amigos, tudo vira tema.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
"É
uma grande reflexão sobre a fragilidade e a força do nosso ofício, e
sobre a dificuldade de uma pessoa que trabalha com a alma e é julgada
pela aparência", diz o diretor Amir Haddad.</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium; text-align: justify;">
"A
TV começa a fazer tudo em cima de um certo tipo de imagem, você fica
prisioneiro daquela imagem e não escapa mais, como a Zezé nunca se
livrou."</div>
<div style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: medium;">
<br /></div>
<div class="text_footer" style="background-color: white; font-family: Times New Roman; font-size: 13px;">
<div class="kicker blue" style="color: navy; font-size: 18px; font-weight: bold;">
A VINGANÇA DO ESPELHO: A HISTÓRIA DE ZEZÉ MACEDO</div>
<div class="kicker blue" style="color: navy; font-size: 18px; font-weight: bold;">
<br /></div>
<b>QUANDO:</b> sex., 21h30; sáb., 21h; dom., 19h; de 9/3 a 29/4<br /><b>ONDE:</b> Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, Morumbi; tel. 0/xx/11/7420-1520)<br /><b>QUANTO:</b> R$ 40 (sex.) e R$ 50 (sáb. e dom.); promoção no primeiro fim de semana: R$ 10<br /> <b>CLASSIFICAÇÃO:</b> 12 anos</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-15705260638146772962012-03-06T18:28:00.001-03:002012-03-06T18:40:16.418-03:00Maternidade, Inferno e Sétima Arte – 2ª parte<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sim, eu prometi um francês, mas resolvi guardá-lo para
amanhã. Apresento hoje um longa canadense vencedor de 25 prêmios em festivais
internacionais.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZkG381Iie5bJ6E9PjYWaTvkMq9-YPH5izkh9mo65gOYoEnUOJWfesxfbkcXeYND1m5KB5kNvJ4pUGNb79Dh3FdIs7LNJSAxVNXhScumImbhXQ8f5OkBFah9IZ4Yaw9S3EhZRruK6OPU8w/s1600/j-ai-tue-ma-mere.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZkG381Iie5bJ6E9PjYWaTvkMq9-YPH5izkh9mo65gOYoEnUOJWfesxfbkcXeYND1m5KB5kNvJ4pUGNb79Dh3FdIs7LNJSAxVNXhScumImbhXQ8f5OkBFah9IZ4Yaw9S3EhZRruK6OPU8w/s320/j-ai-tue-ma-mere.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Eu matei minha
mãe</b> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">J'ai tué ma mère</i>), de 2009, o
adolescente Hubert (Xavier Dolan) é o filho de Chantale (Anne Dorval) no
primeiro longa roteirizado, produzido, dirigido e estrelado pelo prodígio
Dolan, que declarou tratar-se de uma obra semi-autobiográfica.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há pouco eu falava ao telefone com minha mãe (é sério, não é
piada) sobre o quanto acredito que, a partir de um determinado momento na vida,
qualquer interferência maternal deixa de ser uma solução para tornar-se um
problema. Na defesa de meu argumento, tentei explicar a ela que esta minha
leitura não tem relação com o compromisso implícito que filhos detêm com pais
para a velhice deles, já que, claro, este foi o primeiro entendimento dela. Nesse
sentido, creio que nem caiba qualquer “porém”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O fato é que sou facilmente seduzida pela ideia de culpar
tacitamente as mães por certo retardo no amadurecimento das pessoas. Homens e
mulheres, fique claro. Mais homens que mulheres, pelo que tenho visto. Mas não
há regra. Independentemente, vejam, de estarem as pobres matronas cobertas das
melhores intenções. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRx7VvLDmJCZpM80b6EaeGuBjf98UpyjtPcsdaYlh5Nq3QHh84s7tzMrhw-UI1wKAZxT_UEvBKCzCGu6T-OZser3h1Bsh7Kxl58Ys-n_DrhWVcc6h4j0f7DyX7ZuVVtTG3w0VpRTGp_3Mu/s1600/EUMATEIMINHAME.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRx7VvLDmJCZpM80b6EaeGuBjf98UpyjtPcsdaYlh5Nq3QHh84s7tzMrhw-UI1wKAZxT_UEvBKCzCGu6T-OZser3h1Bsh7Kxl58Ys-n_DrhWVcc6h4j0f7DyX7ZuVVtTG3w0VpRTGp_3Mu/s200/EUMATEIMINHAME.png" width="143" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E por favor, eu tenho coração. Não ignoro o poder e a
relevância do amor materno, tampouco o vazio na vida daqueles que foram dele
privados. Em última instância e na iminência da morte, por exemplo, é por ela
que chamamos. Ou seja, não é sobre isso que escrevo e, sim, minha mãe vai muito
bem, obrigada!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nada disso invalida, contudo, a impressão que tenho por hora
de que todos atingem um estágio na vida em que aquelas mães que se dedicam intensamente a
resolver problemas dos seus rebentos (muitas vezes como um mecanismo de fuga à
frustração de suas próprias vidas), desde os mais banais, como comprar cuecas,
aos mais elaborados, como provê-los amplamente, tendem a fazer muito mais mal
do que bem aos ex-pimpolhos, permitindo que protelem o desenvolvimento de sua
capacidade e autonomia para tomar decisões, planejar, descobrir o real valor
das coisas e as diretas consequências de suas ações.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tenho outra impressão, ainda, a de que a cada geração esta
postura tem se acentuado. Mecanismos de compensação para as ausências motivadas
pelo trabalho ou para separações, por exemplo, resultam em adolescentes superficiais, consumistas
e carentes. E aqui, quem realmente entende de comportamento humano e de adolescentes
dirá que estou generalizando. E estou mesmo, e sei bem que a conduta e o
caráter das pessoas não são simplesmente “condicionáveis”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O inferno ao qual eu me refiro neste drama é construído pelo
olhar do protagonista, detendor do ponto de vista segundo o qual Chantale vai sendo desenhada. Viver com sua mãe lhe é insuportável. Sem ela, entretanto,
aparentemente impossível. Na direção contrária, para Chantale, dar conta da
plenitude de insatisfações do inteligente e provocador Hubert é tarefa
inglória, abrir mão de sua maternidade, impensável.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Entendo que o pacto de expectativas que se firma na relação
mãe e filhos está, invariavelmente, fadado a frustrações. Em alguns casos
maiores que em outros. Algumas vezes, melhor trabalhadas e compreendidas que em
outros. Fato é que não se pode avaliar o currículo antes do parto. Nem de quem
nasce e nem de quem traz à luz. E, ainda que isso fosse possível, seria apenas
uma forma de criar mais expectativas - e arriscar mais frustrações. Somos sujeitos ao erro principalmente
naqueles momentos em que sequer nos damos conta de que poderíamos errar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chantale é um doloroso exemplo disso. É dela, no limite, a
culpa pela ausência do pai de Hubert. É ela quem resta estacionada (e incapaz
de compreendê-lo) atravancando seu caminho. Mas, é ela quem o salva. E ele, transgressor,
sensível, inteligente, inquieto, imaturo, esbraveja sua angústia. Filho “aborrecente”,
ele julga absolutamente insuportáveis os gestos, gostos, modos, colocações da
mãe. E é ele quem conduz a negação de sua existência, mediante um julgamento
ora cruel, ora risível, segundo o qual tudo o que orbita o universo de sua mãe
é kitsch, desnecessário, excessivo, superficial, declinável. Assim ele a nega –
e a mata.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0-zic9DttN96rexqi_PMqOD9tA5QRUBlUdRlTVLcgOjtUpSsG701IFbsjSHmBjPXagTAgr0pTT2t6lf9hWo-QpcbD5lKtDk29_SQkrlMc-PJ4rqwPWtAkE8KabX7df9QAJOsxkgOtIxQA/s1600/matei+minha+mae.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0-zic9DttN96rexqi_PMqOD9tA5QRUBlUdRlTVLcgOjtUpSsG701IFbsjSHmBjPXagTAgr0pTT2t6lf9hWo-QpcbD5lKtDk29_SQkrlMc-PJ4rqwPWtAkE8KabX7df9QAJOsxkgOtIxQA/s320/matei+minha+mae.jpg" width="320" /> </a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim, ele prefere a professora e o namorado. Como diria minha mãe, "os de fora". </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As tensões entre amor e ódio, rejeição e projeção, repulsa e
desejo estão aqui novamente, desdobradas, diluídas, constantes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para completar, importante ressaltar a felicidade de Dolan
na construção da atmosfera sufocante em que o jovem Hubert se encontra. As
cenas em câmera lenta, bem como os sonhos e delírios do garoto dão um tom a um
tempo denso, triste e delicado ao seu ponto de vista sobre a vida e o mundo que
o cerca.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ah... e há as cores... Mais uma vez, como no caso de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Precisamos falar sobre Kevin</b>, nota-se
um trabalho minucioso na composição das cores a cada cena. No caso específico
da “cafonice” de Chantale, por exemplo, até o revestimento do sofá e o lustre
do apartamento transbordam significado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Trata-se aqui de um capricho adolescente, do drama de uma
mãe incompreendida, de um retrato da crueldade a que estamos fadados todos na
contemporaneidade (dado o poço sem fundo de nossas vontades), de nada disso, de
qualquer outra coisa? Fosse simples assim responder, que graça teria?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://1.gvt0.com/vi/_jDTlFFRNnE/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/_jDTlFFRNnE&fs=1&source=uds" />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Em tempo, o cinema nos presenteia há muito com matéria muito fértil para quem se interessa pelas tensões e problemas resultantes da ambiguidade da relação mãe e filho. Obras como <b>La Luna </b>(<i>La Luna</i>, Ita/Usa, 1979), de Bernardo Bertolucci e <b>Mãe e Filho</b> (<i>Mat i syn</i>, Rus, 1997), de Alexander Sokúrov, são apenas dois belos exemplos destas tensões que enveredam por trilhas incestuosas.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b style="color: #bf9000;">AMANHÃ, O FRANCÊS QUE ENCERRA ESTA SÉRIE.</b> </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-4301785316209631382012-03-06T03:15:00.000-03:002012-03-08T14:22:11.928-03:00Músicas para rogar praga em ex<div style="text-align: justify;">
Pessoas iniciam e terminam relacionamentos o tempo todo, no mundo todo, a cada dia em maior quantidade, intensidade e variedade de desfechos. Mas algo que não se pode deixar de notar é que - sempre e invariavelmente - o portador das nádegas encontra meios de sinalizar sua insatisfação para o portador do pé. Canções (sobretudo as mais adocicadas) gravadas, enviadas por e-mail, postadas no Facebook, enfim, são sempre muito requisitadas nestas deprimentes ocasiões. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este <i>playlist</i> é inspirado em uma matéria que "linkei" no facebook há pouco tempo, acerca das razões que levam os ouvintes de canções como <i>Someone like you, </i>da musa-relâmpago britânica Adele, ao pranto descontrolado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O fato é que andei prestando atenção na referida e pegajosa cantilena e fiquei impressionada com a falta de amor próprio da moçoila (que ainda declara publicamente que suas composições foram todas motivadas por fatos de sua tenra vida amorosa). Espiem:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #351c75; text-align: center;">
<i>Never mind, I'll find someone like you</i></div>
<div style="color: #351c75; text-align: center;">
<i>I wish nothing but the best for you too</i></div>
<div style="color: #351c75; text-align: center;">
<i>Don't forget me, I beg</i></div>
<div style="color: #351c75; text-align: center;">
<i>I remember you said:</i></div>
<div style="color: #351c75; text-align: center;">
<i>"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead"</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vejam vocês, na canção, a garota declara que - não bastasse ter sido abandonada pelo bofe e substituída por alguém "mió" - irá encontrar ALGUÉM COMO ELE!!! Fala sério, que nojinho! Não seria minimamente digno desejar alguém melhor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Surpresa com tamanha derrocada de autoestima, fui beber na fonte do precioso cancioneiro popular brazuca. Afinal de contas, se tem uma coisa que a nossa gente sabe, é dar a volta por cima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vejam que beleza este exemplo atemporal composto pelo velho Chico: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<i>Quando você me quiser rever<br />
Já vai me encontrar refeita, pode crer.<br />
Olhos nos olhos,<br />
Quero ver o que você faz<br />
Ao sentir que sem você eu passo bem demais</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>E que venho até remoçando,<br />
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.<br />
Tantas águas rolaram,<br />
Quantos homens me amaram<br />
Bem mais e melhor que você.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ahhh... agora sim! Tudo bem que o eu lírico aqui, assumidamente mulherzinha submissa, não consegue deixar de pensar no ex-amado. Mas, pelo menos, concentra-se em deixar bem claro pra ele que seus sucessores a amaram "mais e melhor". Assim pode... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um outro mandinguento de plantão é ex-cabeludo Rei Roberto... na célebre <i>Detalhes </i>ele até aceita o fim do romance, mas elenca um rol de minúcias de deixar qualquer detalhista enlouquecida e sem saída nos próximos 150 anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Vejam que audácia:</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Não adianta nem tentar<br />
Me esquecer<br />
Durante muito tempo<br />
Em sua vida<br />
Eu vou viver...</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>(...)</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Se um outro cabeludo<br />
Aparecer na sua rua<br />
E isto lhe trouxer<br />
Saudades minhas<br />
A culpa é sua... </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O interessante aqui é a progressão na praga que ele roga: primeiro o cabelo, depois o ronco do carro, a calça desbotada, os sussurros no ouvido, o retrato, o toque do outro no corpo dela e, enfim, a PRAGA MASTER:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Pensando ter amor<br />
Nesse momento<br />
Desesperada você<br />
Tenta até o fim<br />
E até nesse momento você vai<br />
Lembrar de mim...</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ou seja, a pobre coitada<i> </i>não estará livre de pensar no ex-afeto<i> <b>nem na hora "H"</b></i><i>. </i>Não estou certa se é um caso de extrema pretensão ou imensa crueldade. Ou ambas. De qualquer forma<i>, </i>ao detentor da bunda, melhor desejar maior má sorte ao outro do que desejar um clone dele no futuro, não é mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É verdade que essa praga de canção de dor de chifres e com altos índices glicêmicos reside até na <i>high art </i>da nossa MPB. Então, para encerrar este breve tópico, o mestre Tom Jobim declara a sua total, absoluta e irrestrita incompetência para virar a página:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<i>Eu sei que vou te amar<br />
Por toda a minha vida eu vou te amar<br />
Em cada despedida eu vou te amar<br />
Desesperadamente, eu sei que vou te amar<br />
E cada verso meu será<br />
Prá te dizer que eu sei que vou te amar<br />
Por toda minha vida<br />
Eu sei que vou chorar<br />
A cada ausência tua eu vou chorar<br />
Mas cada volta tua há de apagar<br />
O que esta ausência tua me causou<br />
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver<br />
A espera de viver ao lado teu<br />
Por toda a minha vida...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Chuta, que é macumba esta memória! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pois então, é isso! Talvez Adele tenha optado por compor uma canção na condição de vítima da pragra grudenta do não esquecimento pois músicas para rogar pragas em ex já há aos montes. Você se lembra de mais alguma?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">* ATUALIZAÇÃO: Por sugestão de uma amiga, faço a seguinte ressalva: Adele, Chico, Roberto (em parceria com Erasmo) interpretam composições próprias. Tom, para quem não sabe, interpreta parceria com Vinícius de Morais. A letra da canção é do poetinha, célebre pelos derramamentos.</span><br />
<span style="color: #073763;">** Os vídeos inicialmente postados aqui foram removidos após a divulgação de cobrança feita pelo ECAD pela retransmissão de material disponível no youtube. Meu salarinho de professora não me permite correr este risco. </span></div>
<div style="background-color: white; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: left; text-decoration: none;">
<br /></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-35572009794406921302012-03-05T15:49:00.000-03:002012-03-06T02:32:58.171-03:00Maternidade, Inferno e Sétima Arte – 1ª parte<div style="color: black; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><b><span style="color: #cc0000;">OOOPS!</span></b> <span style="color: blue;">Pois é, meus caros: </span><i style="color: blue;">no pain, no gain</i><span style="color: blue;">. Primeira lição da blogueira neófita: se você não tem certeza de como funciona um recurso ou aplicativo, não use, salvo se estiver consciente do teste. Se desconhece o caráter instável e efêmero de textos online, mantenha uma cópia salva em sua máquina. Se você não fez nada disso, mané, bem feito! Escreva de novo.</span></span></div>
<div style="color: blue; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"></span></div>
<div style="color: blue; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Na tentativa de corrigir uma gafe na ordem da citação do elenco do filme ao qual dedico este post, caro leitor, a brilhante pessoa que vos escreve PERDEU TODO O TEXTO. E não, ele não está em nenhum outro lugar, claro que eu já procurei.</span></div>
<div style="color: blue; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"></span></div>
<div style="color: blue; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Tentarei refazê-lo agora, com todo o risco de não passar muito perto do original. Mas aprendi a lição: <i>backups, backups, babe!</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #cc0000; text-align: justify;">
<b>Preâmbulo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No
post original eu havia descrito detalhadamente o ponto de partida para o
olhar concentrado em aspectos comuns (temáticos, estilísticos,
autorais, de gênero, etc.) que resulta nos agrupamentos de filmes que tenho realizado, e que favoreceu o "start" no <b><span style="color: #38761d;">Projeto </span></b><span style="color: #274e13;"><b><span style="color: #38761d;">Mini Mostras</span></b><span style="color: black;">, uma válvula de escape para os cinéfilos de botequim como eu. </span></span> Mas, ai que preguiça de escrever tudo de novo! Num novo post eu entro nestes detalhes quase <i>off topic</i>. Vamos ao que interessa!</div>
<b><span style="color: #cc0000;"><br /></span></b><br />
<b><span style="color: #cc0000;">Psycho</span></b><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Em 1960, o gênio do suspense Alfred Hitchcock dirigiu a adaptação do romance de Robert Bloch que deu origem ao argumento de um dos roteiros mais conhecidos dos fãs de cinema de suspense: a psicopatia de Norman Bates sempre foi, <i>mutatis mutandis</i>,<i> </i>culpa de sua mãe!<i> </i>E todo mundo sabe no que isso deu... Mães e filhos vem digladiando ficcionalmente há muito tempo, graças à ambiguidade do complexo de Édipo.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguO4IeKwWF9gFKyxYuAL_kWq6G79iPahyV-iBnYxgkKJD9DmE4E4vi4nNW1yH-9tvWRXLAD_5bgNiqgYnA7o2ZKRrTN_gte5x-eFgt9M4daKc3clf2UesOcjXUqaGb6fb8Bna__Ww9_8pQ/s1600/psycho-645.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguO4IeKwWF9gFKyxYuAL_kWq6G79iPahyV-iBnYxgkKJD9DmE4E4vi4nNW1yH-9tvWRXLAD_5bgNiqgYnA7o2ZKRrTN_gte5x-eFgt9M4daKc3clf2UesOcjXUqaGb6fb8Bna__Ww9_8pQ/s200/psycho-645.jpg" width="150" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, não farei aqui psicologismos baratos. Bem sei que não li Freud o suficiente para não incorrer no risco de dizer asneiras. O que segue é a tentativa de organizar e partilhar alguns pensamentos e impressões que me vem perseguindo nos últimos tempos, à medida que vou descobrindo e visitando novas ficções fílmicas. Para o caso deste primeiro post, resolvi comentar a relação entre <b>maternidade e violência</b>. E, ok, como não sou mãe, talvez esteja aberta a temporada de dizer asneiras sim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A filmografia que venho acompanhando neste sentido abarca uma quantidade expressiva de obras, mas para a seleção que segue preferi me ater a alguns filmes recentes, de qualidade, e cujo cerne da questão seja explorado por um viés mais sombrio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diferentes diretores de diferentes países tem direcionado o seu olhar para as relações parentais ao longo da história do cinema. Desde as adaptações de mitos e clássicos da literatura até os roteiros mais comerciais, passando de modo brilhante pelo cinema independente, a ambiguidade e a frustração, desdobradas nos sentimentos de falência e abandono, bem como na tensão entre amor e ódio, e no deslocamento por vezes confuso do desejo, a sétima arte tem sido sítio fértil para o tema.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda que a maternidade não esteja no centro (e sim diluída no contexto) do enredo dos recentes e premiados <b>O garoto da bicicleta</b> (<i>Le gamin au vélo</i>, Bélgica, 2011) de Jean-Pierre Dardenne e <b>Em um mundo melhor </b>(<i>Hævnen</i> - Dinamarca, 2010) de Susanne Bier, estes são ótimos exemplos de como crianças mergulhadas no sentimento de abandono tem potencial como protagonistas bem sucedidas em dramas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estabelecer um ponto de tensão aguda entre mãe e filho, entretanto, parece-me uma estratégia produtiva no sentido de alcançar os corações menos sofisticados e, concomitantemente, lançar mão de enredos polêmicos, dolorosos e, em alguns casos, doentios. Serve a alguns diferentes gêneros, como é o caso do suspense/terror <b>Psicose </b>(<i>Psycho</i>, USA, 1960), da comédia, ainda que de humor negro, como em <b>Jogue a mamãe do trem </b>(<i>Throw Momma from the Train</i>, 1987), mas serve sobretudo ao drama, como é o caso deste pesadíssimo filme que abre a série.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="color: #990000;">Metáforas da redenção</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAM-xS1XpshghlXwJfrZsyzAhdonmfwdb-PwWi63R9muxgMEZjIlIAebQBOmGGjcWD0DWK5Hgm1FF3vMG3IMSnyp_9zabbjCJWa142ZGLWYQ23NAqzPoZ3coW1gExpiZOAz4i2Tfr1GwBe/s1600/kevin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAM-xS1XpshghlXwJfrZsyzAhdonmfwdb-PwWi63R9muxgMEZjIlIAebQBOmGGjcWD0DWK5Hgm1FF3vMG3IMSnyp_9zabbjCJWa142ZGLWYQ23NAqzPoZ3coW1gExpiZOAz4i2Tfr1GwBe/s320/kevin.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Inevitável abrir esta série falando de Kevin. Sim, <b>Precisamos falar sobre Kevin</b> (<i>We Need to Talk About Kevin</i>, UK/USA, 2011) . </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a href="http://www.imdb.com/name/nm0708903/" itemprop="director"></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Dirigido por Lynne Ramsay e aclamado pela crítica, este drama - cuja montagem estonteante e caótica perpassa memórias e vivências da mãe de um jovem psicopata - traça uma rota dolorosa para a redenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vê-se que os acontecimentos posteriores ao brutal assassinato de colegas de escola pelo adolescente Kevin não fazem da vida desta mãe novaiorquina menos infernal do que os dezesseis anos anteriores, em que ela e o filho estiveram imersos em uma rotina cruel de expectativas, frustrações, violência e incomunicabilidade, resultantes, sugere-se, da gravidez e casamento inesperados e da indesejada mudança na rotina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pequenas doses de rejeição e inabilidade surgem da mãe na direção de um bebezinho, mas nada que possa ser diagnosticado como depressão pós-parto. O que segue em crueldade, frieza, cinismo e manipulação, guardadas as devidas proporções, me remeteu à galeria de crianças malignas dos melhores filmes de terror.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O mérito do filme reside em grande parte na magistral atuação dos protagonistas. Tilda Swinton no papel de Eva Khatchadourian, a desafortunada (e simultaneamente insatisfeita) mãe, John C. Reilly como Franklin, o pai permissivo, e Jasper Newell e Ezra Miller como o lindíssimo e assustador Kevin, criança e adolescente, respectivamente.<br />
<br />
Importante ressaltar que trata-se de uma adaptação do "inadaptável" romance de <b style="font-weight: normal;">Lionel Shriver</b>, composto por cartas de Eva a Franklin que explicam o título. A crítica vem enfatizando um tom melodramático presente na película que não existe no livro. Devo dizer que, muito embora não tenha lido o romance, a escolha pela pungência, tanto no enquadramento, quando nos diálogos e na condução da ação, muito me agradou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um quantidade considerável de cenas tingidas de vermelho vivo - de tomates a pichação - remetem à iminência do crime e, muitas delas, simbolicamente, sugerem um desfecho. Eva é sistematicamente perseguida, agredida e insultada por aqueles que a reconhecem como mãe do "monstro" e, resignada, lava as mãos sujas da tinta rubra que vandaliza a fachada de sua casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que talvez palpitará no coração dos mais atentos, penso, será algo como: "estariam na narrativa as ações da mãe justificando as ações do filho, again, oh God?</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais que isso, meus caros, só vendo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/AMmMN5Ge570?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="color: #b45f06;">No próximo post da série, um francês de arrepiar!</b></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-79970060692178639622012-03-05T10:02:00.002-03:002012-03-05T18:00:47.644-03:00A invenção de Hugo e a esfinge de Pondé<div style="text-align: justify;">
Eis que andava eu extremamente compelida a finalmente organizar minhas impressões sobre alguns aspectos em particular da maternidade retratados no cinema - sobretudo francês - dos últimos anos, o que exigiu uma forte dose de veneno no meu coração, quando ontem, sozinha, resovi ir ver ao "A invenção de Hugo Cabret". Cinéfila de botequim que sou (literalmente, mas no bom sentido), e na iminência da TPM, deixei de lado qualquer visão mais pragmática da narrativa e fiz o pacto. Chorei horrores. E o meu envenenado coração mergulhou numa candura tamanha que cheguei em casa e revi o "Cinema Paradiso". Mas este post não é sobre nada disso, que ainda tenho outras ideias para um futuro comentário sobre metafilmes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/oohJ-i4sphs?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acordei, contudo, ainda enbevecida e tomada de ternura e dei de cara com o Pondé meu de cada segunda-feira. Juntamente com o "The Walking Dead" sagrado de cada noite de terça, um vício. (Sobre isso, aliás, minha mania com zumbis, um post futuro, prometo).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda que não me entenda exatamente uma discípula, sou obrigada a confessar meu apreço pelo cinismo do cara. Quem vem acompanhando a polêmica em torno da coluna da semana passada sabe que o texto não tem absolutamente nada de gratuito e, pelo contrário, é praticamente um adendo ao comentário que ele mesmo já havia publicado no final de semana, em resposta às reações negativas do público frente à alusão rodrigueana nada delicada na polêmica coluna. </div>
<div style="text-align: justify;">
Somente o Luiz Felipe para me resgatar do risco de um diabete intelectual e me trazer de volta à realidade nesta segunda ensolarada. O post prometido deve sair do forno nas próximas horas. Obrigada!</div>
<br />
Segue o feito:<br />
<br />
<b>Conhece-te a ti mesmo - Luiz Felipe Pondé</b><br />
<div style="text-align: right;">
Folha de São Paulo - Ilustrada - 05/03/2012</div>
<br />
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Decidi mudar. Não serei mais aquela pessoa que acha que as pessoas não
mudam e que não há história, mas sim um eterno retorno do mesmo. Nietzsche
nunca mais, só Rousseau e seu estado de natureza angelical.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Acredito agora nas primaveras que cortam o mundo. Fui à livraria mais
próxima, ou melhor, ao iPad mais próximo, e comprei um livro que me indicaram:
"Dez passos para ser um novo Pondé", autoria de um certo sábio chinês
que talvez seja um neto de coreano nascido na Califórnia de pais
porto-riquenhos.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
O primeiro passo é aprender a respirar. Sou dono da minha respiração
agora. Em seguida, alimentação. Nunca mais carne vermelha. De início, ainda
frango e peixe, mas em breve pretendo me tornar um amante das rúculas e
alfaces, mas sempre pedindo perdão por precisar tirá-las de sua vida doce e
promissora fazendo fotossíntese. Coca-Cola, nem pensar. Além do mais, é
americana! Vinho, só natural.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Um segredo: continuarei a ir aos EUA porque um tênis lá custa cinco
dólares! Irei escondido e voltarei com dez malas. Mas, temos ou não direito a
ter tênis baratos? Acho uma falta de respeito proibir as pessoas de comprar
tênis e jogos eletrônicos baratos em Miami.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Amarei a África. Abraçarei todas as ONGs do mundo. Direi às pessoas que
elas são lindas e que o mundo faz parte de uma confederação cósmica. Os maias
foram o povo mais avançado da história e decidi frequentar escolas aborígenes
para aprender seu complexo modo de criar sociedades mais justas.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Religião: nunca mais essa coisa pesada de judaísmo e cristianismo,
religiões que nos estragam com sua moral "imposta". Candomblé também
não. Claro, como é religião africana, seria aprovada pelo meu novo eu, mas em
alguns terreiros baixam pombagiras, e elas foram prostitutas e adúlteras, e não
quero nem chegar perto disso! Aliás, decidi que essas coisas não existem.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Minha nova religião será uma forma de budismo light, aquele tipo que
cultua a energia do universo. Sei que existem outros tipos, mas aqueles são
autoritários. Toco as plantas com mais cuidado e percebi que elas são mais
sábias do que Freud. Claro, comprei uma estatueta de um golfinho e joguei fora
aquela esfinge do Édipo horrorosa que minha irmã me deu em Londres.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Nunca mais tragédia grega, agora só revistas que nos ensinam como o mundo
pode ser melhor se arrumarmos nossos sofás de forma mais harmônica com as
estrelas. Contratei uma mestra em decoração oriental. Ela é uma mulher supermagra
e equilibrada. Imagine que curou um câncer em seu gato com reiki.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas
pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com
consciência social o que posso dizer e fazer.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Vendi meu horroroso carro inglês. Estou aprendendo a andar de bike (já
sabia andar de bicicleta, mas bike é outra vibe). Ainda que tenha que
atravessar as ladeiras das Perdizes para ir trabalhar (pena que ainda tenha que
fazer parte desse mundo terrível de pessoas que trocam sua dignidade por
dinheiro), já me explicaram que cada pedalada evita duas moléculas de gás
carbônico, o que faz de mim uma pessoa com pegada de carbono sustentável.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Sexo, agora, só verde. Se provarem que esperma polui o mundo, evitarei o
orgasmo, assim como na Idade Média dizem que mulheres santas evitavam gozar
para serem puras aos olhos de Deus. Enfim, sinto-me leve com meu novo eu.
Provavelmente, serei mais amado, e isso é que conta, não? Acredito, agora, num
mundo melhor.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
De repente, acordei. Sentei na cama. Ao lado, minha mulher dormia, com seu
corpo de pecadora.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Fui até a biblioteca e vi os livros de Nietzsche, Freud, Pascal,
Dostoiévski, Cioran, Bernanos, Roth, Camus, Nelson Rodrigues me olhando com
olhos de profetas.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Os dedos indicadores em riste apontavam para mim.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Ao lado de minha estatueta da esfinge de Édipo, lia-se: "Conhece-te a
ti mesmo". Voltara a ser eu mesmo. Esse miserável escravo das moiras, de
felicidade complicada, doçura rara, boca seca e olhos vermelhos. Reconheci-me:
sou o mesmo pecador de sempre, sem esperança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="mailto:ponde.folha@uol.com.br" target="_blank"><b><span style="color: black;">ponde.folha@uol.com.br</span></b></a><br />
<br />
<b style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="color: #cc0000;"><span style="color: #f1c232;">PRÓXIMA POSTAGEM:</span> "Maternidade, inferno e Sétima Arte" </span></b><span style="color: #f1c232; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">(será que agora vai?)</span><b><span style="color: black;"> </span></b></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-56758903118127758242012-03-05T09:44:00.000-03:002012-03-05T10:15:28.970-03:00Wisnik e a sessentona do Laerte<div style="text-align: justify;">
No último sábado, vasculhando insone algo interessante para ler, eis que surge na treva da madrugada esta pílula de lucidez do Zé Miguel justamente sobre o Laertão, meu candidato a prefeita de Sampa...rs... Um xuxu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Causando - JOSÉ MIGUEL WISNIK</b><br />
O Globo, 03/03/2012<br />
<br />
Antes de mais nada, Laerte é um humorista poeta atuando nesse gênero da narrativa visual curtíssima que é a tira de jornal, conhecido de longa data por criações como os Piratas do Tietê, Los Amigos, o super-herói Overman. Respeitado como um dos melhores do gênero, virou figura nacional polêmica ao passar a se vestir como mulher e ao reivindicar o direito de usar banheiros públicos femininos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Como é um rapaz de 60 anos sem notável sex-appeal nem masculino nem feminino, e já com uma identidade pública anterior, a sua metamorfose nessa curiosa espécie de tia tem causado um espanto mais variado e difícil de definir do que se fosse provocado pela mais desvairada traveca. É que é mais fácil entender, em geral, a viragem de homem em mulher, e de mulher em homem, do que a permanência nessa zon inclassificável em que o sujeito não cabe nos compartimentos dos gêneros, a exemplo dos banheiros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Gostei de vê-lo, e vê-la, no “Roda Viva”, da TV Cultura. Laerte, desembaraçado e falante, não parecia em nada com aquele que vi em outras situações, ensimesmado e travado no limite da mudez doentia. As narrativas do seu processo falam de uma crise pessoal profunda em que se confunde a perda de um dos seus três filhos, em acidente, com uma dúvida radical sobre o sentido do trabalho e da vida. Dessa crise paralisante ele saiu através de uma decisão cujo caráter terapêutico, no seu caso, não há como colocar em dúvida: vestir roupitas de mulher, calçar sapatos de salto médio, usar brincos, aplicar-se uma maquilagem leve. A montagem dessa senhora francamente discreta e bem cuidada, ciosa dos seus predicados e dos seus direitos, teve o condão “milagroso” de liberá-lo de sombras e fantasmas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRAKDaj5MFgxNVpe0alatWzJnbuJZb4Ja3c6alCg2ToY3VVPbwrOe056CLEkCoTvzgWL6Rj33LRozvRlhTQ0vabW8G10mRpWqw46TyGsc8idViTzvywq_OPkuSH3z1yib4h8uHRzQcALEN/s1600/5xv6xvkmve70spn2tacjr9fil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRAKDaj5MFgxNVpe0alatWzJnbuJZb4Ja3c6alCg2ToY3VVPbwrOe056CLEkCoTvzgWL6Rj33LRozvRlhTQ0vabW8G10mRpWqw46TyGsc8idViTzvywq_OPkuSH3z1yib4h8uHRzQcALEN/s320/5xv6xvkmve70spn2tacjr9fil.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Fonte: http://i0.ig.com/fw/5x/v6/xv/5xv6xvkmve70spn2tacjr9fil.jpg</span></div>
<br />
O que saiu, afinal, desse armário? O mais curioso é que não se trata simplesmente de uma opção pela homossexualidade, mas antes de uma opção pelo vestuário que confunde os gêneros e rasura as suas fronteiras. Em outras palavras, quem saiu literalmente do armário não foi um homossexual, mas as roupas que vestem um bissexual. A ênfase está em outro lugar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O direito à opção sexual não se coloca em discussão, está dado como princípio. O que envolve discussão, aqui, é o direito à fantasia, no sentido mais imaginário e no sentido mais literal do termo. Talvez as fantasias cotidianas sejam o núcleo mais forte a alimentar o gênero cartum e as tiras de jornal, seu grande e inesgotável assunto. <br />
No caso de Laerte, sem a menor dúvida. Ele é um mestre da plasticidade desnorteante das nossas fantasias. Já se disse que o processo começou lá, com seu personagem Hugo Baracchini, que, a pretexto de fugir de uma perseguição mafiosa, começa a se travestir de Muriel e acaba adotando o crossdressing.<br />
<br />
O que começou na fantasia ficcional se misturou com a realidade quando Laerte resolveu seguir o caminho apontado pelo seu personagem. E, ao fazê-lo, pôs em cena a realidade dos papéis, masculinos e femininos, como feita de fantasias. Evidentemente, não é a toda hora que alguém, ao trazer à tona as suas porções femininas, leva a coisa tão à risca a ponto de sair se vestindo de mulher, ao mesmo tempo reservada e coquete, com espontânea e construída naturalidade. Acho que o crossdressing de Laerte fez com que ele se desvencilhasse de um nó pessoal, pondo-se num desses lugares tão expostos que fazem o sujeito se sentir inatingível, a começar pelos seus próprios medos, que parecem magicamente anulados pela estratégia inesperada. Mais que isso, a solução terapêutica, no caso dele, é uma extensão direta da sua condição de artista. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A montagem bizarra e normalizada de Laerte feminino não deixa de ser uma obra do humorista. Humorista poeta, já disse. Ele-ela encarnou o cartum. Numa coluna chamada “Direitos e avessos”, eu propus aqui um esquema provocador para as identidades masculinas, dizendo que há quatro tipos de homem: o meio-veado (a maioria, saiba disso ou não), o veado inteiro (que o Ocidente recalcou mas que retornou a exigir o seu lugar discursivo pleno), o meio veadointeiro (para dizer em poucas palavras , o inteiro que não se assume) e o veado inteiro-e-meio (a bicha louca, que se afirma exorbitando). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Não vou repetir minhas explicações sobre essa arma lógica de utilidade antimachista. O que eu quero dizer aqui é que a montagem do poeta humorista Laerte produz uma espécie de desvelamento dessa lógica total, porque a personagem que ele produz é um insólito espécime de meio-veado-inteiro-e-meio, desnudando todas as fantasias ao mesmo tempo e livrando-as das classificações. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O tabu dos banheiros é uma decorrência concreta diante da qual Laerte resolveu não recuar, programaticamente, confrontando a senhora que expressou a recusa a conviver no sanitário coletivo com esse ser excrescente. Há lugares no mundo onde o tabu da separação dos gêneros não vigora para banheiros, nem para saunas públicas. É um sinal de civilização, a ser atingido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No Brasil, esse marco civilizatório é afrontado diariamente, antes disso, nos ônibus apinhados e nos trens. Achei uma passagem às vezes muito direta, no Laerte do “Roda Viva”, do sentimento da conquista pessoal para a conquista coletiva, como se uma coisa resolvesse a outra, com a suspensão imediata da divisão dos banheiros em gêneros. Imediatismo natural em quem fez o lance que fez, abrindo caminhos a percorrer.</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-71287932838288626762012-03-03T12:39:00.001-03:002012-03-03T13:39:47.700-03:00A arte de "prosear o nada", segundo Álvaro Pereira Junior<div style="text-align: justify;">
A leitura do artigo de Pereira Jr na folha de hoje, que versa sobre o novo romance de Ali Smith (The But for The) me fez lembrar uma charge do meu candidato à prefeitura de São Paulo, o cartunista e atualmente <i>crossdresser</i>, Laerte, cuja candidatura (até onde sei, fictícia, meme do face) tem um dos grandes <i>slogans </i>dos últimos tempos: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Se for para ser humorista, que seja gênio!
Se for para ser branco e classe média, que seja revolucionário!
Se for para ser homem, que seja um que respeita as mulheres a ponto de se tornar uma!
Se for para ser mulher, que tenha colhões!
LAERTE PARA PREFEITA, EU ACREDITO!"</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgzBZajvIy347q4faJNDwpxYzpOqQ4LsM44RGftT8bHiot337leSceo1D0hYoKWeULKuO5pVzXBicIChPTpDDAC9KH5bIxs9ZmkLOgebHJo7VaQOT1HG70JUvL2Apf0pzMwJ56yoSrn4bs/s1600/Essa+vai+para+os+queridos+companheiros+estudiosos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="120" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgzBZajvIy347q4faJNDwpxYzpOqQ4LsM44RGftT8bHiot337leSceo1D0hYoKWeULKuO5pVzXBicIChPTpDDAC9KH5bIxs9ZmkLOgebHJo7VaQOT1HG70JUvL2Apf0pzMwJ56yoSrn4bs/s400/Essa+vai+para+os+queridos+companheiros+estudiosos.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="kicker" style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Para além da resenha do romance em particular, vale a reflexão sobre as
tendências da ficção contemporânea que, aos olhos do colunista, tem
bebido sobremaneira na fonte da metalinguagem e do academicismo, em detrimento da
criação de enredos envolventes. Recomendo!<b> </b></div>
<div class="kicker" style="margin: 21pt 0cm;">
<b>LIVROS SOBRE O NADA - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR </b></div>
<div class="kicker" style="margin: 21pt 0cm; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Folha de São Paulo, Ilustrada, 03/03/2012</span><b><br /></b></div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Pouco acompanho a produção contemporânea de ficção, mas recaídas
acontecem, e uma delas é o tema de hoje: o romance "There But for
The", da escocesa Ali Smith (ainda inédito no Brasil), um dos mais citados
nas listas estrangeiras de melhores de 2011.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
A história é assim: um pessoal se reúne para jantar e, por razões
desconhecidas, um dos convidados se levanta, tranca-se em um quarto e dali não
sai.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
A partir daí, não acontece absolutamente nada. Mas descobrir que não está
acontecendo nada não é missão fácil. É preciso decifrar a prosa de Ali Smith e
desbastar a estrutura narrativa. A autora é do tipo que, se pode complicar,
complica.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
O que, em si, não é mau, como sabemos nós, leitores masoquistas. Se é para
sofrer, a gente topa. Mas tem de haver uma troca, um pote de ouro no final
desse caminho tortuoso. Ou pote nenhum -mas aí é preciso que o percurso, ainda
que difícil, apresente beleza e originalidade.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Infelizmente, não é o caso de "There But for The". Ele não tem
uma história boa para contar. Tampouco a estrutura é super inovadora. Em
princípio, nem valeria ocupar este espaço. Só está aqui porque, talvez, seja um
símbolo importante do estado atual da literatura.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Que virou, a meu ver, essa coisa psicologizante, de fluxo de consciência,
jogos de palavras, falação interminável, em geral na primeira pessoa.
Narrativas que só se ocupam de si próprias. É só uma tese, admito, e não das
mais elaboradas. Mas "There But for The" se encaixa perfeitamente
nela. Uma literatura que trata do vácuo. E que, detalhe importante, tem como
único referencial o próprio mundo dos livros.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Dei uma olhada na biografia de Ali Smith. Bingo. Formada em letras na
Escócia, depois pós-graduação em Cambridge, depois participações em sabe-se lá
quantos grupos de estudo... Vida fora dos livros? Não encontrei.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
No romance, a literata Smith tem um "protagonista": o solteirão
de meia-idade Miles Garth, aparentemente assexuado e, claro, literato também. É
ele que se tranca no quarto. O jantar acontece em Greenwich, subúrbio ao sul de
Londres, sede do observatório famoso.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
O evento é promovido por um casal yuppie que, para parecer moderno, reúne
em casa, às vezes, pessoas de perfis "exóticos".</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
À mesa, estão Miles, seu conhecido Mark, um casal meio bronco, um casal
erudito e a filha deste, Brooke, superdotada de nove anos, que os pais tratam
como adulta e levaram ao jantar sem avisar os anfitriões. É um ambiente tenso.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Com perdão da heresia, lembra um pouco a refeição oferecida logo depois do
velório de Marmieládov, em "Crime e Castigo". São semelhantes a
atmosfera pesada, o desconforto, as ironias, as acusações.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Mas, enquanto a profundidade psicológica dos personagens de Dostoiévski é
objeto de estudo há quase 150 anos, na cena criada por Ali Smith é tudo
esquemático e politicamente correto.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Os donos da casa são cabeças de vento fúteis, classe média em busca de
status. O casal negro é sensato e erudito. No outro casal, xucro, o marido é
homófobo desbocado, mas mantém, secretamente, um caso gay com outro convidado,
Mark, que é judeu, filho de uma famosa artista suicida. Isso não é uma lista de
personagens. É um inferno de boas intenções.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Que fique claro: "There But for The" não é banal ou mal escrito.
Smith mostra imaginação e erudição. Brinca à vontade com as palavras, faz
referências a dezenas de livros, parodia autores etc. etc.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
E a estrutura é criativa. Conta a história de Miles Garth sob a
perspectiva de quatro pessoas que mal sabiam quem ele era: uma conhecida de
adolescência; Mark (que o levou ao jantar); a mãe velhinha de uma ex-namorada;
e a menina Brooke. Mas não passa disso.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Ouvi recentemente de um amigo, infinitamente mais bem informado que eu
sobre literatura atual, que ele nunca tinha ligado para histórias policiais,
mas vinha se interessando cada vez mais pelo gênero.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
Compreende-se: bons enredos estão em falta. E os romances policiais são
uma ótima fonte. Como o "Agente Secreto" (1907), de Joseph Conrad,
também passado em Green-</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
wich, e ao qual existem várias referências em "There But for
The". O livro de Ali Smith teve ao menos esse mérito. Fui buscar "O
Agente Secreto" na estante. Uma história, afinal.</div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
<a href="mailto:cby2k@uol.com.br" target="_blank"><b><span style="color: black;">cby2k@uol.com.br</span></b></a></div>
<div style="margin: 21pt 0cm; text-align: justify;">
<b style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="color: #cc0000;"><span style="color: #f1c232;">PRÓXIMA POSTAGEM:</span> "Maternidade, inferno e Sétima Arte"</span></b></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-55752116338548784922012-03-02T14:29:00.001-03:002012-03-03T12:41:12.895-03:00A deselegante ira de Medea<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Antes de mais, quero ressaltar a natureza puramente
reflexiva do que segue, nada comprometida qualquer esforço por reforçar meus
argumentos a partir de citações de autoridade. Nem socióloga, nem antropóloga,
tampouco filósofa ou psicanalista, o que se projeta de mim neste espaço é uma
tentativa de articulação de pensamentos dispersos e fragmentários.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ocorre que há dias em que um sujeito desperta mergulhado
numa vontade furiosa de gritar. Mais ainda, movido por uma energia daimônica
que o impele a dizer todas as suas verdades ao mundo, de esbravejá-las, de verem
transformados sua boca e braços numa poderosa metralhadora apontada para a
humanidade (aqui, a imagem da moça com a metralhadora acoplada na perna
amputada no “Planeta Terror” do Tarantino me provoca um risinho sacana). </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O meu ponto é o seguinte: creio que seja justo dar-se ao
luxo, ao menos naqueles momentos cruciais e decisivos da vida, de manifestar
verdadeira e honesta ira, a despeito de termos sido ensinados a percebê-la como
“pecado capital”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS9CEHcql6mzgvbmZjoiJZ5mxCsdNf-ephUfozfbDwiTPco_C7-uPl9USiv9V2CqmL1QataArGbS9I4ekZZPOJwlqSmhFItc_GD1HDeWg7VPpkcwebEdaLXYuqB_BPazZUm5PA2YGSLb91/s1600/PlanetTerror-LobbyCards_003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS9CEHcql6mzgvbmZjoiJZ5mxCsdNf-ephUfozfbDwiTPco_C7-uPl9USiv9V2CqmL1QataArGbS9I4ekZZPOJwlqSmhFItc_GD1HDeWg7VPpkcwebEdaLXYuqB_BPazZUm5PA2YGSLb91/s320/PlanetTerror-LobbyCards_003.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Fonte: http://www.rose-mcgowan.com/gallery/albums/Movies/2007%20Grindhouse/Lobby%20Cards/PlanetTerror-LobbyCards_003.jpg</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esboço aqui o embrião de uma reflexão amoral, ainda que
falha, e estou tentada a interpretar as manifestações da ira como o sincero grito
dos injustiçados. Ainda que a injustiça neste caso resida, muitas vezes, na
consciência do irado de ter sido vítima de uma falha grave no necessário
sistema de autocontrole que nos permite viver em sociedade. Em síntese: é preciso
ser hipócrita para existir relativamente incólume neste mundo. E os atenuantes
ou agravantes de nossa hipocrisia cotidiana são, mais do que uma questão de
caráter, ditados por fatores externos, ligados ao nosso instinto de sobrevivência.
Explico: se desejo permanecer num emprego, a despeito do meu desprezo pela
incompetência do meu chefe, não o critico. Simples assim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Veja, se não estamos sós no mundo e dependemos de uma rede
de relações para existirmos, desde muito cedo aprendemos a calar nossas mais
sinceras opiniões e a frear em nós todo e qualquer gesto que possa ferir,
ofender, depreciar ou mesmo interferir no bem estar de nossos “semelhantes”.
Trata-se de aprender a tolerar, respeitar, em suma, ter bons modos, ser ético,
polido, “educado”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se um sujeito é cumpridor das regras de convivência
socialmente impostas e, portanto, vive num esforço diário para exercê-las junto
àqueles que o circundam, é natural que anseie por receber dos que o cercam algo
semelhante. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/KFH6cfO9x08?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">(<i>Falling Down</i>, Joel Schumacher, EUA/Fr, 1993)</span><a href="http://www.cineplayers.com/perfil.php?id=11543"></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não me refiro aqui aos bons modos somente. Refiro-me à
percepção mais ampla e genérica de que toda ação gera, de fato, uma reação. À
ideia, que muitas pessoas rejeitam ou ignoram, de que os seus atos, sejam quais
forem (bons ou maus – vide “a corrente do bem”), refletem na vida não apenas
dos seus entes queridos mas, a imensa maioria das vezes, na de estranhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E não me deterei nos excêntricos, nem nos artistas,
intelectuais ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">outsiders</i>, que sempre
os houve no mundo, quase sempre minorias marginalizadas por necessidade, desejo
ou oportunidade. Refiro-me ao sujeito ordinário, a mim e, provavelmente, a
você.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Parece-me uma conta fácil de se fazer: o que não desejo para
mim, não proporciono aos outros. Num mundo ideal, viveríamos assim. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O sentimento de injustiça ao qual aludo (e creio ser um
grande motivador para a ira e, por meio dela, para ações deselegantes,
grosseiras, agressivas e - no limite – violentas) deriva, muitas vezes, da
consciência de que a energia investida em viver segundo as regras sociais não
gera um retorno satisfatório. E este sentimento é cumulativo. Nenhum “injustiçado”
consegue com tranquilidade zerar o seu “injustiçômetro” a cada manhã. Muito
embora, é verdade, existam pessoas mais espiritualmente evoluídas, mais
emocionalmente equilibradas do que outras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdRigmn71KU010ah8IiNsGDV9Z5Cl3IZLM4wT0BAfj6YXWtnlDmOfBW6DwIXf03umUN5OOZZGSE8j_rXpQdCQShzI4aIWWblzGFv6pQBfg80dxO28VRQLeiTmwus-58AUeyRX9W6BZEKsu/s1600/caosreina2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="82" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdRigmn71KU010ah8IiNsGDV9Z5Cl3IZLM4wT0BAfj6YXWtnlDmOfBW6DwIXf03umUN5OOZZGSE8j_rXpQdCQShzI4aIWWblzGFv6pQBfg80dxO28VRQLeiTmwus-58AUeyRX9W6BZEKsu/s400/caosreina2.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Fonte: http://ocaosreina.files.wordpress.com/2011/08/caosreina2.jpg</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para dizer o óbvio: as pessoas são diferentes. Eu prefiro pegar a esteira de Lars Von Trier e
crer que o “caos reina”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fomos ensinados a viver “sob controle”. Nossa natureza,
entretanto, é caótica. Não roubamos, assassinamos e violamos por termos sido
ensinados a viver assim, de modo a garantir a sobrevivência dos grupos, fortalecê-los
e, com isso, alcançar a nossa civilidade. E, principalmente, por nos terem sido
impostas regras e sanções, sejam elas oriundas da fé ou do Estado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O “amor ao próximo” e a “solidariedade” são a versões “hollywoodianas”
de algo em nós – respeitar e ser generoso – que reside no limiar entre o
caráter e a circunstância.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se eu escolho (em conjunto ou individualmente) um
determinado percurso na vida, que implica em ações cotidianas no meu universo familiar,
afetivo e profissional, e trabalho honestamente por ele (sem ludibriar ou
prejudicar ninguém) na direção da construção de um “projeto” (fadado a falhas
no planejamento, frustrações e ajustes, obviamente) e, no meio do caminho, esta
escolha pessoal é certeiramente atingida pela interferência de um terceiro,
desestabilizando descaradamente o meu caminho com a promessa ao(s) meu(s)
parceiro(s) de maior satisfação, benefícios, lucro ou felicidade num outro
empreendimento, eu não tenho o direito de me indignar? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ser tolhido de projetar e perseguir o futuro, bem como de
conservar e desfrutar do presente, não é uma forma de ser roubado? Se fosse com
a sua vida, você não ficaria irado e mergulhado em sentimentos e pensamentos
nada politicamente corretos? Bill, o furioso Michael Douglas de Joel Schumacher, tornou-se icônico neste sentido. E, num exemplo infinitamente menos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mass media</i>, Medea (aqui, a de Lars) também. Quem de nós ousaria não
reconhecer a si mesmo em algum traço de sua humanidade? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/aij5Rip5JfQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"> (<i>Medea</i>, Lars Von Trier, Dinamarca, 1987.)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O fato é que, aos “educados” resta a catarse simbólica de
imaginar-se (num sonho ou delírio) esmagando o crânio do forasteiro, ou imagem
qualquer que o valha. Eu? Eu tenho delírios de um sermão arrasador, de uma lavada discursiva homérica, e procuro
voltar a dormir.</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-59307859866310420002012-02-29T17:31:00.001-03:002012-03-07T14:09:40.280-03:00Segundo Chacrinha, o eterno velho guerreiro...<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcPqkG6FGJ4UVycVSW-4V-Ii1mE5GuqFfT3v4nMGdO5r0xmTkXd7y0p7gWgPvgFnG67_1Bm1DuUtphZ0jSR5n-WbjN8_MLE4EDBfiXYpoCzdH-tBwozFsMu0xWkshdR5ucvF1qGPf6U_Wf/s1600/Un+perro+a+caminho+dos+Andes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
"Nada se cria, tudo se copia"...</div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo bem que o contexto em que surgiu a frase era a televisão brasileira. Mas, cheio de razão, o velho buzineiro foi o primeiro citado pela minha memória no instante em que descobri já haver um conto escrito com o título que dá nome a este blog, e que evoca em mim o desejo de um romance futuro. Certo... como eu não pensei, antes de criar esta conta, em lançar mão da sebedoria do Oráculo do Século XXI e simplesmente jogar no google, entre aspas, a expressão que se me soprava? Pois é, pensei agora. De todo modo, espero que o autor do conto, Marco Antonio Bin, me perdõe a coincidência, caso um dia ele chegue a ela. Para tentar remediar minha gafe, indico o referido conto: <a href="http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2008/08/02/os-caes-de-santiago/">http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/platb/miltonjung/2008/08/02/os-caes-de-santiago/</a> e aviso que ainda não o li, mas pretendo fazê-lo, para o caso de alguém aqui o comentar. De resto, havendo outras coincidências, descobri-las-emos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aqui, mais dois perros andarilhos de Santiago, além dos quatro que ornamentam a parte superior desta tela. Um deles, aquele ao qual me referi na apresentação do blog.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcPqkG6FGJ4UVycVSW-4V-Ii1mE5GuqFfT3v4nMGdO5r0xmTkXd7y0p7gWgPvgFnG67_1Bm1DuUtphZ0jSR5n-WbjN8_MLE4EDBfiXYpoCzdH-tBwozFsMu0xWkshdR5ucvF1qGPf6U_Wf/s1600/Un+perro+a+caminho+dos+Andes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcPqkG6FGJ4UVycVSW-4V-Ii1mE5GuqFfT3v4nMGdO5r0xmTkXd7y0p7gWgPvgFnG67_1Bm1DuUtphZ0jSR5n-WbjN8_MLE4EDBfiXYpoCzdH-tBwozFsMu0xWkshdR5ucvF1qGPf6U_Wf/s320/Un+perro+a+caminho+dos+Andes.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisOgtsW7bZXhG410wWddyguqCL2fWzElRofWHrj45ZlZT7_tShH8osAz7bbXOdcSXqybm_GiCaMB5HopgDcYYOA1cDJ8KvKPl5rB7gyZ-sQZX3mRfF1Hg_szFrVXHjtv2-16hl8ylNCTsJ/s1600/Se+um+dia+eu+escrever+um+romance,+seu+t+%C2%A1tulo+ser+%C3%AD.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisOgtsW7bZXhG410wWddyguqCL2fWzElRofWHrj45ZlZT7_tShH8osAz7bbXOdcSXqybm_GiCaMB5HopgDcYYOA1cDJ8KvKPl5rB7gyZ-sQZX3mRfF1Hg_szFrVXHjtv2-16hl8ylNCTsJ/s320/Se+um+dia+eu+escrever+um+romance,+seu+t+%C2%A1tulo+ser+%C3%AD.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-32873994862105453232012-02-29T16:51:00.001-03:002012-02-29T17:02:09.374-03:00Pensemos, meus caros...!<div style="text-align: justify;">
Vejam só que alegria! Descobri que é possível baixar em um arquivo compactado todo o material que foi sendo colocado na minha conta do Facebook. Com isso poderei, nestes primeiros tempos de blog, selecionar algumas postagens bacanas que andei fazendo por lá, para me ajudar a construir um tom para este espaço, ainda que caótico, eclético, improvisado, enfim... Vou filtrando, revendo, relacionando, aceitando sugestões dos amigos e seguindo! Aliás, amigos blogueiros, venham para cá e me permitam ir para aí também!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta primeira seleção, sugiro dois vídeos extremamente interessantes para uma reflexão apurada e clara sobre a condição humana na contemporaneidade. A ideia é, ao revê-los e somá-los a algumas leituras, finalmente escrever algo que me vem martelando a mente acerca do "medo". Quem sabe, nos próximos dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro vem na voz e pensamento de Mia Couto, um dos mais significativos nomes da literatura em língua portuguesa atual:</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #0b5394; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">"Sem darmos conta fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. As questões de ética são esquecidas, porque está provada a barbaridade dos outros e, porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética nem de legalidade."</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/jACccaTogxE?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo, é fruto da sensibilidade do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de mais de quarenta livros, cuja obra mais conhecida é <b>As Veias Abertas da América Latina</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">"Aunque no podemos adivinar el tiempo que será, sí que tenemos, al menos, el derecho de imaginar el que queremos que sea. En 1948 y en 1976, las Naciones Unidas proclamaron extensas listas de derechos humanos; pero la inmensa mayoría de la humanidad no tiene más que el derecho de ver, oír y callar. ¿Qué tal si empezamos a ejercer el jamás proclamado derecho de soñar? ¿Qué tal si deliramos, por un ratito? Vamos a clavar los ojos más allá de la infamia, para adivinar otro mundo posible"</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/m-pgHlB8QdQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diante deles, do que claramente expõem, pensemos, meus caros, pensemos...</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-77527729811147641322012-02-29T09:15:00.003-03:002012-02-29T09:25:23.598-03:00Francesca - Luis Felipe Pondé<div>
</div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;"><b><span style="color: #990000;"> <span style="color: #999999;">"A virtude é sempre discreta"</span></span></b></span></div>
<div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Lia eu o livro do marxista Terry Eagleton, "O Debate sobre Deus" (ed.
Nova Fronteira, 232 págs., R$ 39,90), recém-publicado entre nós, quando
topei com sua crítica ao cineasta Clint Eastwood.<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9htfDj3WP_5u93db-cBWMDDkbU36HJqPdAyQCwM6uLi6r6jpvRJztk__DjQLln3fBidy6HxAqNm864o_FPJe3iXchNM3TAoDwKrsZ7Yvy0Ra9C8O9_vL6oxKRSWQctVpgN_3rjNr-v3-g/s1600/O-debate-sobre-Deus.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a>Eagleton
é um bom pensador, mas ninguém é perfeito. Seu livro é muito bom e
merece ser lido, mas o que ele diz sobre Eastwood é uma grande bobagem.<br />
<br />
Bobagem, aliás, comumente repetida por gente de bem, mas contaminada
pelo que há de pior nos maus hábitos da esquerda: falar mal de algo que
não conhece.<br />
<br />
Eastwood não é um cineasta machão (como supõem Eagleton e quase toda a
esquerda, que nada entende de ser humano, porque pensa o tempo todo na
bobagem de luta de classes e oprimido x opressor). Pelo contrário,
talvez ele seja um dos artistas que melhor entendem o desespero humano
(masculino ou feminino), assim como suas virtudes mais sagradas, como a
coragem, o autossacrifício e a generosidade.<br />
<br />
Recentemente, revi seu maravilhoso filme "As Pontes de Madison" (1995), um longa feito para as mulheres, como muitos dizem.<br />
<br />
Provavelmente ele pegou muita mulher por conta desse filme. Mulheres
comumente não resistem a homens que parecem entendê-las. Uma das coisas
mais lindas na mulher é a sua capacidade de erotizar o intelecto
masculino.<br />
<br />
Concordo que "As Pontes de Madison" seja um filme sobre o desejo
feminino atado à rotina esmagadora de um casamento sem amor, mas nem
tanto. Ele vai muito além de um drama especificamente feminino.<br />
<br />
Sua personagem feminina principal, Francesca, vivida por Meryl Streep,
não representa apenas as mulheres entediadas de casamentos conservadores
(apesar de que sim, também as representa), mas sim todos os homens e
mulheres que abrem mão de suas vidas afetivas em nome da família sem
reclamar.<br />
<br />
Se é verdade que Gustave Flaubert (1821-80), autor do clássico "Madame
Bovary" (1857), disse um dia a famosa frase "Emma Bovary sou eu"
(referindo-se à personagem principal de seu romance como representante
universal da infelicidade humana), acho que muitos homens poderiam
dizer, parafraseando esse grande romancista francês do século 19,
"Francesca sou eu".<br />
<br />
É um erro comum pensarmos que as angústias femininas não são universais.
Tal erro é comum principalmente nas feministas, que, na realidade, não
entendem nada de mulher nem de homem. Essa tendência a achar que os
fantasmas femininos são "coisa de mulher", assim como menstruação e
menopausa, é comum mesmo em gente capaz.<br />
<br />
Vejamos. No filme em questão, ao final, Francesca (casada e mãe de dois
filhos) abre mão de ir embora com Kinkaid, fotógrafo da "National
Geographic", vivido pelo próprio Eastwood, e que se tornará seu amante
por alguns dias, mas de quem ela jamais se esquecerá (nem ele se
esquecerá dela).<br />
<br />
No marasmo de uma vida interiorana americana, Francesca vive por poucos
dias o pecado do adultério. Não se faz de vítima, mas sabe que peca.
Peço aos inteligentinhos que nada entendem do conceito de pecado que vão
brincar no parque.<br />
<br />
O adultério é um pecado, principalmente quando há amor envolvido;
talvez, somente quando há amor envolvido. E pecado aqui significa a
consciência de que você não é dono de si mesmo. Suas reações,
pensamentos e esquemas rotineiros de enfrentamento da vida entram em
colapso. E dói.<br />
<br />
E mais: é pecado porque o adultério faz você ver que existe alguém
dentro de você que é despertado do sono por outra pessoa que não aquela
que divide honestamente e cotidianamente o dia a dia da sua vida.<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRO2NVc4mFefShsvOsnaqy9-ZUqVAlmncWPrqv9syvnTIFGET-RB6Wx08EmloShRDZV2C1c7EptFLcRdg5_Nn5w82xWMF4MFMggjdS8FpV_WpqVsP7_OTTP4DYOn18tE1gI3xGXWl8D7Pp/s1600/As+pontes+de+Madson.PNG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a>Aquela
pessoa que envelhece com você ao longo de uma vida de "pequenos
detalhes" (como diz nossa heroína Francesca) que, ao serem somados,
representam uma parceria de confiança, retribuição e generosidade. A
grandeza da pecadora Francesca só pode ser medida contra seu sacrifício
em nome dos filhos e do fiel e dedicado marido.<br />
<br />
A alma de um pecador é a sua consciência de que faz algo contra alguém
que não merece. A pior tragédia do adultério se dá quando o traído é
inocente.<br />
<br />
Ao contrário do que muitas mulheres casadas pensam, muitos homens
sacrificam suas vidas afetivas em nome delas e dos filhos, em silêncio. A
virtude é sempre discreta.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Folha de São Paulo - Ilustrada - 09/01/2012 </b></div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-89045445579042504372012-02-29T09:06:00.001-03:002012-02-29T09:27:45.234-03:00Como ganhar um Oscar - João Pereira Coutinho<div style="text-align: justify;">
Agora que a Academia de Hollywood já distribuiu os seus prêmios, imagino que o leitor esteja a sentir uma certa frustração.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante semanas, foram incontáveis os artigos sobre os filmes e atores indicados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas em nenhuma matéria foi possível ler a resposta à questão sagrada:
como ganhar um Oscar? Que posso eu fazer para subir naquele palco,
segurar o eunuco dourado e agradecer à minha mulher, à minha mãe, à
minha amante?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fiz os meus estudos. Estou disposto a partilhar algumas conclusões com
os leitores. Uma primeira certeza: esse ano foi atípico. E exceções não
confirmam a regra. Vamos às regras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro, as senhoras. A leitora deseja mesmo ganhar um Oscar de melhor
atriz? Meta uma coisa na cabeça: ao contrário do que se diz, Hollywood é
uma instituição essencialmente conservadora. A visão que tem da mulher
é feita de extremos caricaturais que não mudam há quase cem anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mulher que Hollywood aprecia habita sempre um dos extremos: ou é santa ou é prostituta. </div>
<div style="text-align: justify;">
Jennifer Jones foi santa Bernadette em 1943 ("A Canção de Bernadette").
Ganhou. Susan Sarandon foi freira em 1995 ("Os Últimos Passos de um
Homem"). Também ganhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se cruzarmos a linha, encontramos a mulher prostituta: Elizabeth Taylor
foi uma em "Disque Butterfield 8" (1960). Jane Fonda repetiu a dose em
"Klute - O Passado Condena" (1971). Ganharam ambas. </div>
<div style="text-align: justify;">
E quando não são santas (ou prostitutas), convém serem princesas (ou
desequilibradas): Ingrid Bergman bateu a concorrência como Anastácia
(1956); Audrey Hepburn passeou por Roma sua elegância real em "A
Princesa e o Plebeu" (1953). Vitória.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se a leitora prefere o desequilíbrio, Vivien Leigh ("Uma Rua Chamada
Pecado", 1951), Joanne Woodward ("As Três Máscaras de Eva", 1957) ou
novamente Elizabeth Taylor ("Quem tem Medo de Virginia Wolf?", 1966) são
alguns exemplos de sucesso no excesso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um conselho: não experimente a deficiência física profunda. Isso é coisa
para machos. Quando muito, Hollywood tolera a mudez. Marlee Matlin
("Filhos do Silêncio", 1986) ou Holly Hunter ("O Piano", 1993) ilustram o
que digo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Moral da história? Um Oscar para melhor atriz será praticamente
imperdível se a leitora encontrar o papel de uma mulher com dupla
personalidade: religiosa durante o dia, garota de programa à noite. Ser
surda-muda também ajuda, mas convém não exagerar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E os homens? A escolha é mais variada. Mas o conservadorismo de Hollywood mantém-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
Há papéis que o leitor deve evitar por seu evidente anacronismo.
Pistoleiros do faroeste? Sim, funcionou com John Wayne ou Lee Marvin.
Não funcionou mais com Clint Eastwood ou Jeff Bridges. E sobre as
figuras bíblicas, esqueça: depois de "Ben-Hur", a fonte já secou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para os homens, Hollywood sempre gostou de figuras de autoridade.
Escolha uma. Podem ser estadistas (Thomas More, Henrique 8º, Disraeli,
Gandhi, George 6º etc.).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas também podem ser padres, policiais ou militares. Spencer Tracy, em
"Com os Braços Abertos" (1938), foi padre. Bing Crosby, em "O Bom
Pastor" (1944), também. E Gary Cooper ganhou dois Oscar seguindo o
conselho: primeiro, foi sargento em "Sargento York" (1941); depois,
xerife em "Matar ou Morrer" (1952).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para além da autoridade política ou moral, existe ainda a autoridade
física. Pugilistas ocupam o topo: Wallace Beery ("O Campeão", 1931) ou
Robert De Niro ("Touro Indomável", 1980) são a prova de que Hollywood
gosta de gente que bate.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se, pelo contrário, o leitor optar pela fraqueza -física ou mental-
convém descer mesmo aos infernos. A deficiência tem que ser severa (Jon
Voight, paraplégico; Dustin Hoffman, autista; Daniel-Day Lewis,
paralisia cerebral).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hollywood sempre gostou de cegos (Al Pacino, Jamie Foxx). Há aqui um padrão: mudez para as mulheres, cegueira para os homens.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Infelizmente, concluo com tristeza que Hollywood despreza jornalistas
como eu. Mas isso não significa que "jornalista" seja papel a evitar.
Clark Gable foi um em "Aconteceu Naquela Noite" (1934).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se juntarmos ao papel alguns comportamentos próprios da profissão que
Hollywood também aprecia -um certo gosto pela garrafa (Lionel Barrymore
em "Uma Alma Livre", 1931); Nicolas Cage em "Despedida em Las Vegas"
(1995) e evidentes distúrbios de personalidade (Jack Nicholson, sempre
Jack Nicholson), posso mesmo concluir, sem exagero, que a minha vida
merecia um Oscar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span class="text_footer"> <a href="mailto:jpcoutinho@folha.com.br"><b>jpcoutinho@folha.com.br</b></a></span><br />
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<span class="text_footer"><b>Folha de São Paulo - Ilustrada - 28/02/2012 </b> </span>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-289509315367997892012-02-28T16:21:00.000-03:002012-02-29T09:28:25.556-03:00#ficamasdicasTá aí, com vontade de ler algo interessante, mas no seu feed do face só aparecem selos de autoajuda, memes e particularidades da vida de seus "conhecidos"?<br />
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Além da coluna da direita aqui no blog, onde listei blogs legais que acompanho, resolvi colocar aqui alguns dos sítios que conheço, frequento e recomendo, seja para trabalho ou entretenimento:<br />
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Se você quer ficar por dentro no que rola no cenário das artes no Brasil:<br />
<a href="http://bravonline.abril.com.br/">http://bravonline.abril.com.br/</a><br />
<a href="http://revistapiaui.estadao.com.br/">http://revistapiaui.estadao.com.br/</a><br />
<a href="http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/novaversao.asp">http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/novaversao.asp</a> <br />
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Se curte filmes e séries e quer dar uma espiada no que anda disponível online, para além do universo dos blockbusters:<br />
<a href="http://legendas.tv/">http://legendas.tv/</a><br />
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Se precisa pesquisar, estudar, ou quer ler em meio digital:<br />
<a href="http://livrosdehumanas.org/">http://livrosdehumanas.org/</a> <br />
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Agora, se o lance é uma polêmica, uma lista divertida, ou curiosidades pra relaxar:<br />
<a href="http://puxacachorra.blogspot.com/">http://puxacachorra.blogspot.com/</a> <br />
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Com o tempo, vou ampliando as dicas!<br />
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;-) <br />
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<br />Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-60322693584973416792012-02-28T15:19:00.001-03:002012-02-28T15:23:50.466-03:00Imaginar é preciso...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Adzywe9xeIU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe> </div>
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<i style="color: #351c75;"><b>The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore</b></i> foi premiado pela Academia em 2012 com o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. Quinze minutos com esta pequena e delicada peça são suficientes para restar encantado. Definitivamente, ler é, antes de tudo, navegar. </div>
Informações sobre esta produção estadunidense em: <a href="http://www.imdb.com/title/tt1778342/">http://www.imdb.com/title/tt1778342/</a><br />
<br />Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2317777645623341456.post-3810010556111729222012-02-28T12:14:00.001-03:002012-03-05T14:13:05.125-03:00Apresentação<div style="text-align: justify;">
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"Os Cães de Santiago" é o título para um romance ainda não escrito. Preferencialmente, que verse sobre a desumanidade (e possivelmente jamais escrito por mim, já que a prosa de ficção, para além de minhas atividades acadêmicas, jamais me pareceu matéria para a qual eu tenha qualquer habilidade). Estive em Santiago em julho de 2011 e notei por lá uma quantidade impressionante de belos e enormes cães errantes. Doces, elegantes e simpáticos andarilhos. Aos quase 35 anos, já não tenho pudor nenhum em admitir que minha admiração e afeto pelos não humanos suplanta qualquer traço dela que eu nutra pelos próprios. Ocorre que, em uma tarde daquele julho, sentada em frente ao Mercado Municipal da capital chilena, um perro enorme veio acomodar-se sossegadamente bem aos meus pés. Pensei n'Os Cães de Santiago como um belo título, fosse para o que fosse.</div>
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Procurei este espaço pela absoluta impossibilidade de abandonar a minha vida virtual, por menor que seja o tempo disponível. Nos últimos dias, venho experimentando uma espécie de crise de abstinência. Hábitos são hábitos. Minhas leituras matinais, o flanar pelas informações culturais, os pitacos no comportamento alheio, as dicas de filmes, os poemas preferidos, as canções e imagens que me tocam, enfim, tudo o que vinha circulando nos últimos três anos no meu perfil do Facebook recentemente deletado deve aparecer por aqui. É a minha primeira experiência como blogueira e tenho a impressão de que será mais livre, menos engessada nos padrões das redes sociais. Sinto uma espécie de necessidade de amadurecimento autoral, algo como uma seriedade descompromissada, mas que, contraditoriamente, se origina na crença narcísica de que tenho um compromisso com aqueles que antes me "liam" e que abandonei. Ninguém torna públicos seus pensamentos e sua rotina se não dispõe disso, mas creio que ainda seja cedo para classificar ou nomear qualquer coisa. Talvez este novo contexto me estimule a escrever mais, "ensaiar" mais, para além dos recortes e elencos que venho realizando. Afinal de contas, foi o prazer em escrever o meu primeiro impulso na direção da formação que me fez profissional das Letras. Em algum canto de mim, tantos desencantos depois, ele ainda respira.</div>Sheila Pelegrihttp://www.blogger.com/profile/16793464746675116736noreply@blogger.com2